Perguntam-me muitas vezes se o vinho está na moda. Costumo responder que uma bebida que está neste território – a que hoje chamamos Portugal – há mais de 2000 anos não pode ser uma moda.

Mas sim, a forma como o consumimos pode mudar e ter diferentes tendências ao longo dos anos.

Começo com a filosofia que está por trás de muitas das tendências atuais: “quanto menos, mas melhor”. A ideia é simples — beber com mais consciência e mais qualidade. Em vez de quantidade, opta-se por uma boa escolha, feita com tempo e intenção.

Isto tem implicações claras: os vinhos tintos encorpados e tradicionais estão a perder algum protagonismo, e a procura por brancos e rosés está a crescer. E não só pela leveza — têm menos álcool, são mais frescos e combinam com estilos de vida mais descontraídos.

E por falar em frescura… os espumantes estão em alta. Seja Champagne, Prosecco, espumante nacional ou até versões desalcoolizadas — há cada vez mais gente a escolher borbulhas para o dia a dia, não só para as celebrações.

Moderação e bem-estar também ditam tendência: os chamados vinhos NoLo — com baixo teor de álcool ou mesmo sem álcool — estão a crescer. E não é só para quem não bebe: é para quem quer sentir o prazer do vinho sem os efeitos de uma garrafa inteira.

E se o vinho vier numa lata? Até isso causa cada vez menos estranheza. Pelo contrário — o vinho em lata tem vindo a conquistar os consumidores, sobretudo os mais jovens. É prático, leve, portátil e, surpresa, pode ser mesmo bom!

Para além disso, há uma procura crescente por embalagens sustentáveis: bag-in-box, garrafas de alumínio ou papel, vidro mais leve. O objetivo? Reduzir a pegada ecológica, simplificar o transporte e adaptar o consumo ao estilo de vida moderno — mais imediato, mais móvel, mais leve.

Quer dizer que o clássico tinto, envelhecido em madeira, numa garrafa de vidro com rolha de cortiça vai desaparecer? Claro que não, mas o seu consumo será quase para um nicho de mercado.

Outra tendência forte é a curiosidade por regiões emergentes. Já não se bebe só vinho francês, italiano ou espanhol. Há um apetite real por descobrir o que se faz no Brasil, na Grécia, na Eslovénia, na Geórgia, no Líbano… e sim, em Portugal!

A valorização das castas nativas, especialmente aquelas que resistem melhor às alterações climáticas, está a ganhar terreno. Em vez de Cabernet Sauvignon e Chardonnay em todo o lado, vemos cada vez mais vinhos feitos com variedades únicas de cada região.

Em Portugal temos um património incrível: castas como Antão Vaz, Baga, Castelão, Rabigato, Encruzado — e tantas outras — estão a ser redescobertas e celebradas, não só por nós, mas por apreciadores em todo o mundo.

Vinhos de baixa intervenção, vinhos naturais, vinhos laranja, Pét-Nats… há uma sede por autenticidade e diferenciação. Estes vinhos podem ter sabores mais “brutos” ou menos polidos, mas são únicos — e isso, hoje em dia, vale ouro.

Há cada vez mais vinhas a optar por práticas orgânicas e biodinâmicas, uso racional da água, energia renovável nas adegas, e até projetos de reflorestação.

Práticas sustentáveis já não é apenas uma filosofia de alguns. É um imperativo para garantir a sobrevivência da vinha — e, claro, responder a um consumidor que valoriza cada vez mais a sustentabilidade.

O recurso à tecnologia também se vai generalizar. Sim, o vinho é artesanal — mas cada vez mais tecnológico. Hoje, muitos produtores recorrem a drones para monitorizar as vinhas, inteligência artificial para prever o melhor momento de colheita, e até blockchain para garantir a autenticidade da garrafa — da vinha ao copo.

No lado do consumidor, há experiências digitais que transformam a prova num espetáculo: realidade aumentada, provas online, apps que sugerem vinhos com base no teu gosto — quase como um Spotify do vinho.

Tudo isto torna o mundo do vinho mais acessível, mais personalizado e… mais divertido!

As marcas estão a adaptar-se às novas gerações. Em vez de jargão técnico e etiquetas pretensiosas, optam por uma linguagem mais próxima, visual e descomplicada.

Histórias de produtores, vídeos com bastidores, influenciadores a provar e recomendar… o vinho está a ser apresentado de forma mais humana e direta.

A geração mais jovem quer experiências, valores e autenticidade. Por isso vemos vinhos com branding criativo, com nomes irreverentes, com parcerias com artistas e eventos culturais.

Já não se trata apenas de vender vinho — trata-se de criar comunidade.

E sim, os desafios são reais. A indústria enfrenta obstáculos como aumento de custos de produção, inflação, regulações mais duras sobre bebidas alcoólicas, e até tensões geopolíticas que afetam exportações e preços.

Por isso, as soluções precisam de ser criativas — e colaborativas. A inovação, a sustentabilidade e o diálogo com o consumidor são mais importantes do que nunca.

Resumindo: o vinho do futuro será mais leve, mais diverso, mais sustentável, mais tecnológico — mas continuará a ser, acima de tudo, muito humano. E é isso que o torna tão especial!