Descubra o Enoturismo em Bucelas: a capital do Arinto e umas das mais pequenas regiões demarcadas do país. Uma região de vinhos surpreendente às portas de Lisboa

A cerca de meia hora da cidade de Lisboa, Bucelas é uma sub-região de vinhos muito especial. Considerada região demarcada desde 1911, esta tem como cartão de visita o Arinto e é a partir desta casta branca que são produzidos todos os seus vinhos D.O.C.

Esta região faz parte da Rota de Vinhos de Bucelas, Carcavelos e Colares, cada uma delas com características únicas.

Existem algumas pistas a indicar que já os fenícios e romanos cultivavam o Arinto por esta zona. Mas sabe-se, com toda a certeza, que era um vinho muito apreciado por personalidades como Duque de Wellington ou mesmo por Shakespeare que o menciona na sua peça Henrique VI. O distinto vinho de Bucelas também não passou despercebido ao nosso Eça de Queiroz que o descreveu como “Magnificente” n’Os Maias.

A convite do Turismo de Loures fui este ano pela primeira vez conhecer a Capital do Arinto e fiquei verdadeiramente rendida!

MUSEU DO VINHO DE BUCELAS

Para aprender mais sobre a região, decidi fazer uma visita guiada ao museu (as visitas guiadas são opcionais e a pedido). Este é gerido pela Divisão de Cultura da Câmara Municipal de Loures e presta uma excelente homenagem a Bucelas e ao seu Arinto.

A guia contou-me não só a história da região como também abordou temas relacionados com técnicas de viticultura e vinificação comuns a todo o país.

O Museu do Vinho de Bucelas tem ainda uma parte interactiva muito bem feita e divertida! Trata-se de uma sala com ilustrações nas paredes alusivas às diferentes fases do vinho, desde o trabalho da vinha, a vindima, o funcionamento da adega e por fim a prova. Quando as fotografamos com uma aplicação – num tablet do museu ou instalada no nosso smartphone – as ilustrações ganham vida, e pequenos vídeos animados mostram ao visitante mais sobre cada fase.

O museu tem ainda uma loja onde se podem comprar não só vinhos e espumantes de todos os produtores D.O.C Bucelas mas também das outras duas regiões da rota: Colares e Carcavelos.

CASA DE NOSSA SENHORA DA PACIÊNCIA

Esta é na verdade a casa de família de João Camilo Alves, um nome indissociável à região.

Mas curiosamente este nome, hoje tão associado ao vinho, começou por ser barbeiro. Tanta fama tinha no seu oficio que muita gente se deslocava de Lisboa para Bucelas para que João lhe cortasse o cabelo.

Foi aqui que o barbeiro viu uma oportunidade de negócio e começou a vender vinho enquanto aparava barbas aos senhores. Um dia o vinho revelou-se mais rentável do que a barbearia e a vida de João Camilo Alves mudou de rumo.

Nos anos trinta criou a sociedade Caves Velhas que ainda hoje se mantém activa – agora pela mão da Enoport United Wines – fazendo desta empresa, a mais antiga produtora e engarrafadora de vinho branco de Bucelas.

A Casa de Nossa Senhora da Paciência está actualmente a ser gerida pelo bisneto Vasco Camilo Alves e além de alojamento local, é também espaço de provas de vinhos, almoços e jantares vínicos e outros eventos.

No dia que visitei, o almoço foi acompanhado pelos vinhos da Enoport, claro está, mas também por um delicioso Morgado de Bucelas. Este vinho é um vinho do produtor Boas Quintas, que apesar de produzir vinho essencialmente no Dão, não resistiu vir até Bucelas criar um excelente Arinto.

QUINTA DAS CARRAFOUCHAS

Por muitos poucos metros mesmo, a Quinta das Carrafouchas não se encontra inserida na região demarcada do vinho de Bucelas… Mas se está de visita à zona, então não pode deixar de passar por aqui!

Esta quinta data do Séc. XVIII e mantém-se propriedade da família Cannas desde meados do Séc. XIX até aos dias de hoje.

António Maria é um anfitrião com um estilo muito próprio tal como os vinhos que produz. Um homem que faz vinhos por paixão, como quer e sem cerimónias. Mostrou-nos todos os recantos da quinta de família e do solar de estilo barroco.

Nas vinhas que rodeiam o solar, está plantado o incontornável Arinto mas também as castas tintas Touriga Nacional e Tinta Roriz.

Também na Quinta das Carrafouchas se organizam eventos e almoços vínicos numa pátio bem em frente às vinhas. Foi ali que António Maria nos deu a provar o seu Quinta das Carrafouchas branco 2017 e o tinto 2013.

Apesar desta região privilegiar a produção do vinho branco, fiquei apaixonada pelo tinto. Não parece ter a idade que tem, é um vinho cheio de vida, sabor e força que, não fosse eu quase terminar a garrafa, ainda se mantinha fantástico por mais uns anos!

Outras quintas que não visitei, ou que não estão ainda abertas ao enoturismo, mas cujos vinhos recomendo muito provar: Viúva Quintas e Morgado de Santa Catherina. Ambos representam o Arinto de Bucelas em todo a sua expressão.

Esta é uma casta com muita personalidade produzindo vinhos secos, muito aromáticos e com uma excelente acidez o que quer dizer que se bebem bem jovens, mas melhoram muito com a idade.

Adorei conhecer esta região e certamente irei voltar, pelo Arinto e não só!