Se pensa visitar Valdera na Toscana, prepare-se para dias intensos, de muita comida e excelentes vinhos!

Inserida na região da Toscana, e mesmo entre as bem famosas cidades de Pisa e Florença, está situada a zona de Valdera.

Pela sua localização, já podem imaginar a perdição gastronómica de que se trata! Foi a convite do Turismo de Valdera que passei três dias nesta zona a explorar algum do seu potencial (digo algum, porque com certeza ficou muito por conhecer)

PONTEDERA

Tipicamente uma cidade industrial junto ao rio Arno, Pontedera tem vindo a investir numa mudança de imagem. A governo local convidou diversos artistas para criar obras de arte nas ruas da cidade e assim torná-la mais bonita.

E por falar em arte e coisas bonitas…. Descobri que Pontedera é a cidade natal da icónica moto Vespa. Inclusivamente tem um museu onde podem ver todos os modelos desta moto desde a primeira de 1946, assim como outros modelos da marca Piaggio. Não tenho carta de moto, mas confesso que fiquei com vontade de ter uma Vespa verde e assim me perder pelos bucólicos caminhos da Toscana!

Em Pontedera experimentei dois restaurantes bem diferentes.

Amalia Laghi

Este é um bom exemplo de restaurante de fim de semana, para ir com toda a família. Está localizado mesmo frente ao lago Braccini. Este lago, no Verão, é muito frequentado pelos locais de Pontedera, que o desfrutam como a sua praia!

Amalia Laghi serve comida italiana, mas com um toque moderno. Um espaço cheio de luz natural, com vista para o lago e comida bem confecionada. Tenho a certeza que no Verão, com o céu menos cinzento, a comida sabe ainda melhor!

La Cantinetta Vini

Um restaurante com uma decoração muito caseira, onde as paredes são revestidas de vinhos e o balcão funciona também como mercearia para quem quiser levar para casa queijos, enchidos e outras delícias.

Foi isto mesmo o nosso antipasto (entrada, antes do prato principal). Uma tábua com uma grande variedade de salame, prosciutto, queijo regional de cabra e um pão sem sal, tipicamente servido na Toscana. Nesta região, o pão é propositadamente feito sem sal já que toda a charcutaria é por si só já intensa em sabor!

Como se isto não fosse suficiente, a seguir ao antipasto, veio a pasta. Pedi um clássico – tortellini al ragu – porque acredito que é nos básicos que se vê a verdadeira qualidade dos produtos e de quem os cozinha. E não me enganei, foi das melhores massas que comi em toda a viagem, bem cozinhada e bem temperada!

A refeição foi acompanhada por um excelente vinho Chianti, uma sub-região de vinhos dentro da Toscana e na qual Pontedera também está inserida.

LARI

Lari foi a minha vila preferida! Pois apesar de ter poucos habitantes, nesta vila medieval dentro de muralhas e com um castelo do séc. XVII, existe uma excelente e variada oferta gastronómica.

Depois de subir os 92 degraus até ao topo do castelo e ver a vista deslumbrante sobre as colinas da Toscana, voltei a descer até à fábrica de massa Martelli. Este é um negócio familiar que os Martelli gerem desde 1926. Aqui vi fazer spaghetti e maccheroni de forma artesanal pelas mãos de quem realmente sabe o que faz.

Ainda em Lari visitei duas charcutarias – macelleria Ceccoti e Davide Balestri – ambas pequenas e artesanais. Provei o prosciutto, bastante diferente do nosso presunto pois é curado menos tempo e esse processo é feito com a ajuda de especiarias no seu exterior.

Provei salame com trufas, rigatino di Lari – algo semelhante ao bacon – e deliciei-me com o lardo. Este último é um autêntico pecado, nada mais nada menos que fatias de gordura de porco curadas com pimenta, alho e ervas aromáticas!

E ainda…. sim, ainda antes do almoço, fomos espreitar a Pastelaria Bernardeschi onde se produz um delicioso Colomba, o doce típico de Páscoa em Itália.

Tem parecenças com o nosso bolo-rei e com o panetone, mas na verdade era bem mais fofo e saboroso que ambos!! Diria que um cálice de vin santo a acompanhar, seria o casamento perfeito!

Quem diria que depois de uma manhã a comer, ainda tinha fome para o almoço! Fomos à Bottega di Confreo. Mais um restaurante tradicional, com decoração muito acolhedora dentro de paredes de pedra e tectos abobadados.

O antipasto desta vez foi uma selecção de diferentes bruschetta a que se seguiu uma pasta (da fábrica Martelli claro está) al Ragu, como eu gosto!

CASCIANA TERME

Muito próximo de Lari está a vila de Casciana Terme, famosa pelas suas termas. Mas não foi para me banhar em águas quentes que aqui vim. Foi para comer mesmo!

O jantar nesse dia foi no restaurante Atutt’Antipasto. É um lugar para comer, mas de uma maneira diferente! Tal como nome indica, aqui o menu é todo ele composto por antipasti que variam de acordo com a sazonalidade e inspiração do Chef.

Naquele dia a selecção passou por corvina, salmão, polvo, hambúrguer de vaca tudo servido em pequenas doses, como num menu degustação.

PECCIOLI

Uma viagem gastronómica à Toscana não ficava completa sem uma visita a um produtor de vinhos.

Neste caso, a adega escolhida foi a Tenuta di Ghizzano, uma quinta que pertence à mesma família há 26 gerações. Nos anos oitenta começaram finalmente a produzir vinho de qualidade, inicialmente a partir da casta italiana Sangiovese, à qual se juntaram Cabernet Sauvignon e Merlot.

Hoje são 20 os hectares de vinha plantados em torno da quinta. Além das castas tintas mencionadas, também produzem as brancas Vermentino, Trebbiano e Malvasia bianca. A utilização de maioritariamente castas locais e a proximidade ao mediterrânio, atribuem aos vinhos características únicas e uma qualidade superior.

Provei quatro vinhos no final da visita pela quinta e adega Tenuta di Ghizzano. Desses quatro, escolhi como preferidos:

  • branco Il Ghizzano i.g.t Costa Toscana – este vinho, feito a partir de Trebbiano, Vermentino e Malvasia bianca, fermenta dois dias juntamente com películas. Isso torna-o seco intenso na boca, com boa acidez e alguma salinidade devido à influência mediterrânica. No final ficam os sabores de frutos secos que combinam na perfeição com um bom pecorino!

  • tinto Veneroso d.o.c Terre di Pisa – este é o topo de gama da Tenuta di Ghizzano, desde a sua primeira colheita em 1985. É feito maioritariamente a partir de Sangiovese com uma pequena percentagem de Cabernet Sauvignon. Gostei do seu sabor a ameixa preta seca com pimenta preta e canela (parece impossível, mas é verdade!) Um vinho seco com um final longo que corta bem a gordura do prosciutto com que foi servido.

Depois de uma prova de vinhos acompanhada de azeite, enchidos e queijos, foi altura de literalmente pôr a mão na massa!

A Fattoria Fibbiano é uma quinta do séc XII que em 1997 foi totalmente recuperada pelo actual proprietário ganhando nova vinha. Além de produzir vinho e azeite, nesta quinta há também um wine bar, loja de vinhos, restaurante e um agroturismo.

Para o nosso grupo, a actividade sugerida foi um workshop de massa fresca. Incrível como com apenas dois ingredientes – farinha e ovos – se faz algo tão delicioso!

Primeiro misturámos ambos os ingredientes de maneira a formar uma massa húmida, mas consistente. Depois estendemos a massa e passámos pela máquina que a cortou em finos fios de esparguete. Deixámos secar por trinta minutos e estava pronta!

Enquanto nos entretínhamos com uns deliciosos antipasti e provávamos os vinhos da Fattoria Fibbiano, Paula – a nossa fantástica professora – preparou uma cremosa e saborosa carbonara com a massa que tínhamos acabado de fazer.

E foi com o sabor da massa, ovos, queijo, salame e vinho ainda na boca que terminei a minha aventura gastronómica por Valdera na Toscana! Foi muito bom. mas soube a pouco…. Certamente vou voltar e conhecer mais desta região linda de Itália!

Grazie Mille ao Turismo de Valdera por me proporcionar esta gulosa experiência 😊