Fui descobrir tudo o que se pode fazer durante um dia na Adega Mayor, Alto Alentejo


Há cerca de 4 anos visitei a Adega Mayor pela primeira vez. Foi uma experiência de enoturismo óptima, uma visita com prova de vinhos e picnic no espelho de água que cobre a adega design. Escrevi tudo neste artigo! Mas a verdade é que esse dia, soube-me a pouco…

Queria estar naquele sítio mais tempo, tão calmo, rodeado de planície alentejana a perder de vista, um bom vinho branco fresco e uns petiscos no jardim… porquê ir embora?

Este ano voltei à adega de Campo Maior e a experiência foi bem melhor e mais longa! Vou-lhe contar como passei um dia inteiro na Adega Mayor.

Manhã

A oportunidade de voltar à Adega Mayor aconteceu, desta vez, em plena vindima. Mal cheguei à adega deram-me um kit vindima com tudo que eu precisava para pôr mãos à obra: tesoura, luvas, chapéu, t-shirt, água e uma barrita de cereais com café!

A uva a colher naquele dia era a Touriga Nacional por isso lá fui eu, corajosa debaixo de um sol abrasador, encher três caixas desta casta tinta! Vindimar é um trabalho divertido nos primeiro minutos, depois é duro… há que admirar as equipas que fazem isto todos os dias, durante um mês ou mais…!

Depois do trabalho, voltei para o fresco da adega, bem atarefada nesta altura do ano. Fui guiada por Francisco, coordenador de enoturismo, e directamente da cuba provei mosto de Viosinho, Gouveio e ainda Trincadeira. Uns ainda em estado “suminho” doce de uva, outros em arranque de fermentação – já com acidez e algum gás – outros já com álcool final (já nada doce) ou com um anos de envelhecimento em barrica.

Provar mosto directamente das cubas em diferentes fases da fermentação é uma experiência muito gira e que ajuda a perceber como o vinho acontece!

A sala de provas já estava preparada para me receber. Uma mesa redonda bem composta por queijos, paios e chouriços, pão, azeite e marmelada caseira. Isto tudo para acompanhar os 10 vinhos que ia provar!

Provei os brancos Seleção, Viosinho, Verdelho e Antão Vaz, todos de 2019, o Arinto e Reserva do Comendador de 2018.

Dos tintos provei Reserva 2018, Touriga Nacional 2018, Touriga Franca 2017 e Sangiovese 2018

Desta prova destaquei o branco Viosinho e o tinto de Touriga Franca. Sempre gostei muito mais de vinhos blend mas ultimamente tenho treinado o meu paladar para os monocastas e para conhecer os aromas mais expressivos de cada casta.

O Viosinho tinha uma excelente frescura sem ser exuberante e claramente tinha aromas e sabores a vegetais e até relva cortada. A Touriga Franca originou um tinto seco, a lembrar pimenta preta ou chocolate negro.

E pode parecer que estou aqui a inventar aromas e sabores que nunca ninguém detecta, mas a verdade é que esta prova teve uma preciosa ajuda de 20 copos com potenciais aromas que se encontram nos vinhos: banana verde, laranja, relva cortada, flores, curcuma, paus de canela e muitos outros.

É uma excelente ideia esta da Adega Mayor para ajudar os visitantes a provar vinhos e perceber que cada casta é diferente e única!

Tarde

E com isto já a manhã invadia a tarde, mas o almoço ainda estava para vir.

E que almoço! Não bastava eu já me ter empanturrado de enchidos e pão (e vinho, claro está) ainda tinha à minha espera um picnic no meio da vinha.

À sombra do sobreiro e com vista para a adega, tinha um recanto de mantas alentejanas a cobrir fardos de palha, vinho fresquinho e uma cesta cheia de petiscos! Estes tinham sido todos preparados pelo restaurante Aperta em Campo Maior, também pertencente à familia Nabeiro.

Pintada de escabeche, pimentos assados, cenoura algarvia, mais uma tábua de queijos e enchidos, mais pão e salada de frutas, tudo bem acompanhado pelo vinho Caiado Rosé. Naquele momento não podia pedir mais nada! Fiquei apenas ali em silêncio a comer, beber e apreciar a paisagem.

Antes que o sol se pusesse, deixei a moleza e o picnic para trás e segui para a Herdade dos Adaens, onde ia passar a noite.

Não é hotel, não é turismo rural, não é parque de campismo…. A Herdade dos Adaens é um lugar único e especial. Um sitio onde a biodiversidade, o respeito e contacto com a natureza são notórios e onde o descanso é real.

O quarto que me foi atribuído, podia ter sido um barco (que também lá há) mas não, foi mesmo uma antiga carruagem de comboio, ainda pousada sobre os seus carris (e eu que sou doida por comboios!). Por dentro ninguém diria que tinha sido tudo adaptado a partir de uma velha carruagem pois tinha todos os confortos e tecnologia de um quarto de hotel!

Os quartos estão todos localizados em torno da piscina biológica. Há anos que ouvia falar deste conceito e estava desejosa de experimentar! É uma piscina que simula o habitat natural de diversas espécies aquáticas, vegetais e animais. Neste caso, um pequeno muro separava a zona própria para banhos – com água verde e limos nas paredes como é natural – e a zona onde plantas, peixe, rãs e insectos conviviam e ao mesmo tempo depuravam a água.

A descrição pode soar estranha a muita gente mas eu adorei! Nadar numa água sem cloro nem outros químicos, ouvir as rãs e o som de diferentes plantas ao vento, foi muito bom mesmo!

Noite

O jantar estava reservado no restaurante Aperta (antigo Aperta Azeite, talvez tenha ouvido falar) e como disse antes, pertence também à mesma família da Adega Mayor. A ementa esteve a cargo do Chef Henrique Mouro e mais típico alentejano não podia ser!

Comecei com o Antão Vaz que já tinha provado de manhã – uma casta com corpo, aromas de pêssego ou ameixa branca – que combinou muito bem com o prato de peixe de lúcio perca, e o tinto foi uma surpresa que me chegou à mesa: Pai Chão 2016 (ainda sem rótulo!).

Feito com 80% de Alicante-Bouschet – uma casta tinta cheia de cor e sabor – e com 2 anos de estágio em carvalho francês, este é um vinho encorpado, guloso, com sabor a compota mas também com chocolate e especiarias. Um vinho que impõe respeito mas que não intimidou de forma alguma as bochechas de porco com batata doce que o acompanharam.

De barriga bem cheia mais muito feliz, voltei para o sossego dos Adaens, onde as rãs à volta da piscina coaxavam junto com os grilos da noite.

E dormi tão bem!

Este foi o programa proposto durante a “Vindima Mayor 2020” mas noutras alturas do ano, e se o tempo permitir, mesmo não havendo vindima podem ser preparados os picnics na vinha. Visita à adega e prova de vinhos são também actividades para todo o ano.

Mas imagine que visita a Adega Mayor no Inverno… Há também muito para fazer!

Não só na Herdade dos Adaens existe um Centro de Interpretação do Mel, que explica como tudo acontece com a abelha, plantas e favos, para nos chegar à mesa aquele doce delicioso, como a propriedade alberga também o Centro da Ciência do Café (CCC).

Este espaço eu já conhecia da primeira vez que visitei a Adega Mayor, mas adorei voltar! Porque ali aprende-se absolutamente tudo sobre o café. Desde a planta do café, plantações no mundo, a torra dos grãos, o negócio de contrabando de café com Espanha nos anos 60, o consumo de café e as diferentes máquinas e claro, no final, uma prova de café. Um café bem tirado, por quem sabe 😉

O CCC é interactivo, divertido e informativo que vale muito a pena conhecer.

Diria que não faltam coisas para fazer na Adega Mayor e arredores, talvez um dia só não chegue… mas já é um óptimo começo!


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