Por muitas voltas que o mundo dê, o enoturismo está em crescimento e evolução. Ficam aqui sete tendências do enoturismo para 2023!
O que é uma tendência? Propensão; inclinação; disposição; propósito. A cada ano que passa, o Enoturismo ganha mais propósito, torna-se mais disponível a novos públicos, inclina-se para diferentes formatos mas sempre com propensão a crescer!
Não tenho uma bola de cristal e, actualmente, é mesmo muito difícil fazer previsões seja para o que for. Entre pandemias e guerras, há crises que são imprevisíveis.
Mas com base em viagens, visitas a adegas, conversas com produtores de vinho e alguma pesquisa, juntei neste artigo sete tendências para o Enoturismo em 2023.

Faixa etária mais baixa
Se durante muto anos o enoturismo era um actividade associada a casais reformados com algum poder de compra, actualmente o cenário está a mudar. Continua a haver pessoas a partir dos 65 anos que disfrutam de enoturismo, com calma e sossego como se quer, mas há igualmente uma geração entre os 35 e 44 anos curiosa por saber mais sobre vinhos.
Uma geração que se habituou a viajar pelo mundo, a reservar todas as suas viagens online, para quem o próximo destino está à distância de alguns “clicks” e que simultâneamente está a ganhar um gosto e interesse cada vez maior pelo mundo do vinho.
Sendo esta uma das tendências do enoturismo para 2023, os produtores de vinho, agências de viagem e todos os operadores que trabalham o turismo de vinhos devem direccionar grande parte da sua comunicação para este público-alvo.

Visitas privadas
Algo que os tempos de pandemia trouxeram foi a preferência por experiências privadas, de nicho, longe de grupos e confusões. É, por isso, importante repensar e estruturar as visitas a adegas em modo mais privado – seja casais, famílias ou pequeno grupos de amigos – mesmo que isso, à primeira vista pareça perda de lucros.
Muitas adegas preferem ter grupos de 20 ou 30 pessoas com um só guia porque conseguem rentabilizar as visitas ao longo do dia. E não deixa de ser verdade…. Mas a pergunta que devem fazer é: com quantas dessas 20 ou 30 pessoas foi possível estabelecer uma relação próxima? Quantas tiveram à vontade para colocar questões e comentar os vinhos? Quaantos compraram vinho à saída? Quais se tornaram clientes fieis e passaram a palavra a familiares e amigos? Todas estas perguntas são mais fáceis de responder, quanto menor for o grupo.

Solo travelers
E quando se fala de visitas privadas, fala-se também de “solo travelers” ou viajantes individuais.
Tal como fala este artigo, a tendência de viajar sozinho está a aumentar um pouco por todo o mundo e em todos os tipos de turismo.
Seja porque há cada vez menos pessoas a formar família, ou a fazê-lo mais tarde nas suas vidas, seja porque as condições financeiras variam de pessoa para pessoa e muitas não têm companhia para viajar, seja porque a globalização tornou o mundo mais próximo e viajar é hoje mais fácil e seguro e por isso, muita gente se sente bem a viajar sozinha, a realidade é esta: há cada vez mais solo travelers por aí.
E o que é que o enoturismo tem a ver com isso? Tudo. Muitos são os casos em que adegas só aceitam reservas no mínimo de duas pessoas. Esta mentalidade tem de mudar!
É possível organizar visitas para uma pessoa apenas, mesmo que isso implique ajustar os preços para compensar ter um guia dedicado, ou compensar abrir uma só garrafa ou preparar uma tábua de queijos para uma pessoa. Receber solo travelers será, seguramente, uma tendência do enoturismo para 2023.

Nómadas digitais
Uma das razões para haver tantos solo travelers é também o crescimento da comunidade de nómadas digitais no mundo. Nómada digital é alguém que trabalha remotamente, enquanto viaja pelo mundo.
Por regra, têm profissões ou negócios ligados às tecnologias digitais, o que lhes permite trabalhar em qualquer local desde que tenha rede wi-fi, como cafés, espaços de coworking ou bibliotecas públicas.
Por isso, o que eu digo aos produtores de vinho portugueses é que procurem essas comunidades, saibam onde estão (física e digitalmente) e comuniquem com eles, deem-lhes a conhecer os seus vinhos, incentivem-nos a conhecer a adega.
Isto, mais uma vez, é válido para produtores de vinhos e agências de turismo mas também regiões vitivinícolas e rotas de vinho que queiram dinamizar os seus destinos!

Exclusividade, proximidade, genuíno
A par da privacidade, cada vez mais o que os visitantes procuram são experiências de proximidade com o produtor, com o enólogo, com o vinho e a vinha, com a terra e com as tradições.
Ter acesso a algo exclusivo que muito pouca gente tem, abrir uma garrafa que não está disponível no mercado, comer um borrego criado naquela herdade, ouvir os adegueiros cante o Cante alentejano improvisado.
O genuíno e exclusivo pode ser também aquilo que está pouco explorado. Acredito mesmo que certas regiões em Portugal irão despertar muito interesse nos próximos tempos, exactamente por serem ainda pouco massificadas e ainda manterem a autenticidade.
Falo de regiões como Trás-os-Montes, Beira Interior, Algarve e Açores, por exemplo. Regiões que estão a crescer como destinos enoturístico, que estão a desenvolver estruturas, a comunicar melhor e criar condições para receber visitantes com mais qualidade.
Quer isto dizer que regiões como Douro e Alentejo vão perder lugar? Não! Apenas estão já consolidadas. Já alcançaram uma reputação forte e estão na mente de muitos viajantes. Vão continuar a receber enoturistas de todo o mundo, mas não considero uma tendência de enoturismo para 2023

Slow tourism
O movimento “slow” também ganhou força após a pandemia. Muita gente percebeu que não precisa de ter uma vida de contante correria para ser feliz, aliás, ao parar (embora forçadamente) percebeu que é na calma que encontra o bem-estar e felicidade que desconhecia. É aí que o enoturismo entra. Este encaixa-se no conceito de slow tourism ou “turismo sem pressa”.
Quem pratica o slow tourism são pessoas que, geralmente, têm vidas profissionais muito intensas, em ambiente de escritório ou cidade, rodeadas de tecnologia. São, portanto, pessoas que, nos seus tempos livres e de lazer, querem viver mais devagar e absorver a experiência.
O Enoturismo é exactamente isso: beber um vinho com calma, degustar a comida local, observar a paisagem, ouvir os sons do campos, conversar com as pessoas que fazem e vivem o vinho…
Se gere o enoturismo numa adega, dê tempo aos visitantes para aproveitarem a sua visita. Se organiza roteiros de enoturismo, o meu conselho é não encher cada dia com muitas visitas ou longas viagens.

Turismo sustentável
Sustentabilidade é uma das palavras do momento e ainda bem! O enoturismo tem um papel fundamental na sustentabilidade das regiões onde se insere, tanto a nível ambiental como social e económico.
E porque é que eu considero a sustentabilidade uma das tendências do enoturismo para 2023? Porque o visitante está cada vez mais sensível para este tema. Procura cada vez mais adoptar um turismo de forma sustentável (o oposto do turismo de massas) e procura respeitar as comunidades locais, ao viver experiências imersivas e não invasivas.
Optar por um alojamento rural em vez de uma cadeia hoteleira, ir a restaurantes tradicionais e consumir vinho da região, usar bicicletas ou caminhar pelas vinhas reduzindo a pegada ambiental, já são práticas cada vez mais comuns.
Ao mesmo tempo, o visitante procura adegas igualmente com práticas sustentáveis: agricultura biológica, utilização racional da água na adega, empregar recursos humanos locais, parcerias com pequenos negócios regionais, são alguns exemplos.
Há realmente uma maior atenção por parte do visitante que deve também ser levada em conta no que toca a gerir uma unidade de enoturismo
Para ficar a par de mais tendências do enoturismo para 2023, recomendo espreitar também a agenda de eventos deste ano e participar no máximo que conseguir!