Ribera del Duero: uma região demarcada recente, cujos vinhos já alcançaram reconhecimento mundial e o seu enoturismo merece uma visita!

Ribera del Duero já estava na minha lista de regiões de vinho a visitar, há muitos anos.

Depois de conhecer Rioja e Jerez, a oportunidade de ir ao lado espanhol do Douro, surgiu a convite da Feria de Valladolid, a propósito da terceira edição da FINE – Feira Internacional de Enoturismo.

Sendo assim, o meu roteiro começou mesmo por Valladolid, uma das mais antigas cidades de Espanha que chegou a ser, inclusivamente, capital do Reino.

Valladolid foi sem dúvida uma surpresa pela beleza dos seus edifícios, pela quantidade de igrejas e conventos que abriga e pela vida e animação que tem, a qualquer dia e a qualquer hora.

Uma das minhas refeições preferidas foi no restaurante/wine bar Melel que, para os amigos que o gerem, significa “festa e diversão”. Neste espaço de decoração bem moderna, o menu é de fusão de sabores espanhóis com asiáticos e sul americanos.

Mas os vinhos, esses, são essencialmente espanhóis e locais. Escolhas pessoais da dona do restaurante, que deu preferência a pequenos produtores e novos projectos.

Recomendo uma paragem aqui, seja para jantar ou apenas para tomar um copo!

PROVINCIA DE VALLADOLID

Valladolid é a província mais completa em vinhos de Espanha, com quatro denominações de origem:

  • D. O. Rueda
  • D .O. Cigales
  • D. O. Toro
  • D. O. Ribera Del Duero

D.O. RUEDA

Esta é uma região demarcada desde 1980, engloba mais de 70 produtores, e foi classificada como a 1º DO de vinhos brancos de qualidade em Espanha. Mas a produção de vinho por estas terras tem mais de dez séculos!

Rueda é especialmente conhecidas pelos seus vinhos brancos feitos com a casta Verdejo de Rueda, uma casta que chegou Espanha ainda durante o reinado de Afonso VI.

Actualmente, os vinhos feitos com Verdejo de Rueda são muito frescos, de acidez vincada, aromas cítricos e de aniz e com um ligeiro travo amargo, característico da casta.

D.O. CIGALES

Na direção oposta de Rueda, ou seja, para norte da cidade de Valladolid, está a região de Cigales.

É denominação de origem desde 1991, mas desde os tempos da filoxera que esta região ganhou grande importância. Isto porque muitos produtores de Bordéus, fugindo da praga em França, encontraram aqui terra saudável e fértil para continuar a produzir vinho.

É conhecida especialmente pelos seus vinhos Rosados ou Claretes feitos a partir das castas Tempranillo, Garnacha, Cabernet Sauvignon e Verdejo.

D.O. TORO

Também os romanos andaram por aqui e deixaram o seu legado no cultivo da vinha e produção de vinho, mas apenas em 1987 se definiu a Denominação de Origem.

À semelhança de Ribera del Duero, também a região de Toro está muito próxima do rio Douro e já mais perto da fronteira com Portugal. Por esta razão, Toro beneficia de um pouco mais influência atlântica e clima mais temperado.

É uma região que se caracteriza pelos vinhos tintos feitos a partir da casta autóctone Tinta de Toro.

D.O. RIBERA DEL DUERO

Região demarcada desde 1982. Na verdade, já existia vinha e muita produção de vinho aqui há muitos séculos, mas a filoxera também não poupou esta zona da devastação e apenas a partir dos anos 70 a região se reergueu da catástrofe.

A casta rainha é a Tempranillo, também chamada de Tinto Fino e equivalente à nossa Tinta Roriz ou Aragonês.

Por essa razão, Ribera del Duero produz vinhos maioritariamente tintos, onde ao Tempranillo se juntam Cabernet Sauvignon, Merlot, Malbec e Garnacha tinta. A principal casta branca autorizada é Albillo Mayor.

Solos

A região é algo acidentada e por isso há vinhas plantadas entre os 720 e 1.100 metros de altura. Aqui o solo é formado por camadas de areias siltosas ou argilosas, com camadas alternadas de calcário e concreções calcárias.

Clima

Clima mediterrânico, mas com extremos: verões secos, invernos longos e rigorosos, chuvas baixas (400-500 mm/ano) e uma grande oscilação térmica que pode ir de -20ºC a 42º C.

Vinhos de Ribera del Duero

Com toda esta descrição, só me falta acrescentar que os seus vinhos tintos são bastante encorpados e com volume. É muito comum envelhecerem em barricas de carvalho francês o que lhes dá um sabor e estrutura extra.

Os aromas são de compota de amora e especiarias, que se mantém depois na boca, juntamente com chocolate negro e alcaçuz.

Sendo que grande maioria dos vinhos tem algum estágio em madeira, os vinhos da Ribera del Duero têm um bom potencial de envelhecimento.

ENOTURISMO RIBERA DEL DUERO


Ribera del Duero está localizada na região de Castilla y León e inclui quatro províncias: Burgos, Segóvia, Soria e Valladolid.

De Valladolid para Ribera del Duero, fui de carro e demorei cerca de uma hora. Apesar da região ser composta por várias cidades, o meu roteiro concentrou-se em volta da cidade de Peñafiel.

Em apenas uma tarde, visitei quatro produtores ou unidades de enoturismo. Mesmo não tendo sido muito tempo, conto-vos um pouco de cada um dos lugares que valem a pena visitar!

CASTILLA TERMAL MONASTERIO DE VALBUENA

Mosteiro do Séc. XII, hoje transformado em hotel de luxo com tratamentos termais.

Estando situado numa região produtora de vinho, criaram uma linha própria de cosmético e produtos à base de uvas e mosto, usados nos seus tratamentos de Vinoterapia.

A Castilla Termal Monasterio de Valbuena não produz vinho, mas rodeando-se de vinhas por todos os lados tornou-se, ao longo dos anos, paragem obrigatória para quem faz enoturismo na região.

Não só facilmente podemos caminhar pelas vinhas mais próximas, como naturalmente, as termas também organizam provas de vinho.

Eu tive a sorte de fazer uma refeição volante nos claustros do mosteiro, num almoço preparado pelo Chef do restaurante Bodega de Los Monjes. O nome é uma homenagem aos Monges de Cister, que mais tempo ocuparam o mosteiro, pela sua contribuição na produção de vinhos de Ribera del Duero.

O almoço foi servido em modo tapas, todas deliciosas, com base em produtos locais e sazonais, mas com um toque bastante moderno. Neste dia provámos um delicioso Eresma V&R Verdejo 2020 de Rueda!

BODEGAS PROTOS

Protos significa, em grego, “início” ou “origem” e foi fundada em 1927 por um grupo de onze amigos, apaixonados por vinho. Logo no ano seguinte, o seu vinho foi premiado na Exposição Universal de Barcelona!

Por ter sido fundada ainda antes da região demarcada, Protos deteve durante muitos anos uma marca de vinho chamada Ribera Duero.

Em 1982, com a demarcação da região, Protos autorizou a utilização da marca mas ainda é a única adega que pode ter um vinho com o nome “Ribera Duero”.

A actual adega foi construída nos anos 70 e tem mais de 2km de tuneis subterrâneos cheias de barricas com vinho tinto Tempranillo.

Por estar construída dentro da montanha, estes tuneis têm a temperatura e humidade ideais para envelhecimento do vinho.

Visitei a adega e, após transpormos o imponente portão de madeira, entramos numa sala vazia e paredes brancas onde, durante uns minutos, um criativo espetáculo de vídeomapping nos conta toda a história da Protos.

É bastante divertido, e inesperado ao mesmo tempo, começar assim uma visita de enoturismo!

Além desta região, Protos também produz um vinho Verdejo na D. O. Rueda e um Rosado da D. O. Cigales.

PAGO DE CARRAOVEJAS

Tudo começou pela comida, mas o vinho veio logo depois.

Isto porque o responsável pela existência do Pago de Carraovejas é José Maria Ruiz Benito, um apaixonado por gastronomia, Chef e proprietário de um dos melhores restaurantes de Segóvia.

Em 1987, José Maria constrói a adega e planta os primeiros 9 hectares de vinha, numa encosta virada para o Castelo de Penãfiel.

Hoje são já cerca de 160 hectares onde se encontra a casta Tempranillo junto de Merlot e Cabernet Sauvignon.

A adega é muito moderna e bem equipada, construída essencialmente na horizontal para se enquadrar na paisagem montanhosa e em todo o ecossistema que vive em redor das vinhas.

É também neste edifício que se encontra o restaurante Ambivium, aberto desde 2017 e merecedor de uma estrela Michelin desde 2020.

Ambivium significa “caminhos cruzados” e é o resultado das duas paixões do fundador José Maria: comida e vinhos. Aqui o Chef Cristóbal Muñoz dá largas à sua imaginação, tendo sempre os vinhos da casa como inspiração.

Mas a Alma Carraovejas vai muito além de Ribera del Duero. Em 2013 sentiram que tinham atingido a quantidade e qualidade desejada nesta região e começaram a procurar mais desafios fora.

Eu tive o privilégio de provar:

  • O Pequeno – branco blend D.O. Ribero, da Galiza
  • Ossian – branco Verdejo de Segovia
  • Marañones – tinto Granacha da D.O. Vinos de Madrid
  • Pago Carraovejas – tinto Tempranillo D.O. Ribera del Duero

Todos os vinhos foram muito bem harmonizados com um prato preparado pelo estrelado Ambivium!

ABADIA RETUERTA

A última visita do dia foi na conceituada Abadia Retuerta. Já tinha ouvido falar muito deste local e por isso estava desejosa de conhecer. E não me desiludiu!

A Abadia Retuerta é um mosteiro do Séc. XII e foram os monges que a habitavam, que plantaram as primeiras vinhas em seu redor, pois reconheceram nas margens do rio Douro bons solos para produção de vinho.

Actualmente, dentro dos 700 hectares de propriedade, estão plantados 180 de vinha com 70% Tempranillo, 10% Cabernet Sauvignon e 10% Syrah.

Os restantes hectares estão ocupados com diversas outras castas experimentais, entre elas Touriga Nacional da qual fizeram um vinho monocasta!

Dentro da Abadia Retuerta, existe o Refectorio, onde o antigo refeitório dos monges dá lugar a mais um estrelado restaurante Michelin.

Mas foi na antiga Sacristia que terminei o dia, com um jantar volante e prova de alguns dos vinhos.

Abadia Retuerta não é apenas uma adega ou produtor de vinho, é também um dos hotéis de charme mais luxuosos de Espanha.

Os quartos têm uma decoração bastante clássica, a combinar com o estilo da abadia, mas totalmente rodeados por vinhas e com todos os luxos que se espera de um “Leading Hotel of the World”

Antes de me despedir da Abadia Retuerta, o seu director Henrique Valero levou-me até à La Cueva!

Descendo umas escadas de pedra, encontrei uma cave escura, que em tempos funcionou como celeiro ou arrecadação da abadia e agora abriga a coleção privada da adega.

Ou seja, 8.500 garrafas de vinhos de todo o mundo, incluindo todas as vindimas da propriedade, a primeira das quais foi produzida em 1995!

Talvez não acredite se lhe disser que visitei estes quatro enoturismos em apenas uma tarde.

Muito pouco tempo para explorar todo os vinhos, vinhas, adegas, paisagens ou comida de Ribera del Duero… Por isso quero muito voltar e descobrir os encantos do outro lado do rio Douro!


RIBERA DEL DUERO ENOTURISM