A Quinta de La Rosa resistiu a 100 anos de uma longa e conturbada história, que apenas a deixou mais forte e cheia de orgulho nos seus vinhos!
Confesso que tenho alguma inveja (da boa!) de Claire Feueheerd por ter recebido como presente da sua avó, um lugar como a Quinta de La Rosa.
Isto durante o ano de 1906. Entretanto aconteceu a II Guerra Mundial, uma ditadura e uma revolução em Portugal, alguns casamentos e divórcios na família, enfim, muitos episódios que podiam ter deitado abaixo esta quinta – mas nada impediu que se tornasse uma importante referência nos vinhos do Porto e Douro.
Durante muitos anos as uvas desta quinta eram vendidas para produzir vinhos de grandes casas de vinho do Porto, como Croft e Sandeman. Mas isso mudou quando, em 1988, a Quinta de la Rosa começou a vender Portos com rótulo próprio. Pode-se dizer que esse foi o ano de viragem para esta casa.
Sophia e o seu pai Tim – neta e filho de Claire – arregaçaram as mangas decididos a mudar o rumo dos seus vinhos e, nos anos 90, apostaram também na produção de vinho tinto (ou vinho de mesa), sendo um dos primeiros produtores do Douro a fazê-lo.
Hoje, a Quinta de La Rosa produz maioritariamente vinhos de mesa, nunca esquecendo os vinhos do Porto, que são no fundo a alma do Douro.
Os seus vinhos são exportados um pouco para todo o mundo, recebendo merecidos prémios nos mais conceituados concursos mundiais.
Mas eu não sabia quase nada desta história, até este ano ter subido ao Douro para finalmente conhecer a Quinta. Mesmo no centro do Pinhão – o comboio vindo do Porto pára a poucos minutos a pé da quinta – e com o rio aos seus pés, a Quinta de La Rosa e as suas vinhas podem-se considerar privilegiadas!
Cheguei à Quinta de La Rosa por volta da hora de almoço, já com mesa pronta à minha espera na Cozinha da Clara. O restaurante abriu em 2017 pela mão do Chef Pedro Cardoso, como homenagem à avó de Sophia.
Famosa pela sua generosidade e hospitalidade, Claire tinha um gosto nato pela cozinha. Hoje a Cozinha da Clara aposta na comida portuguesa sem pretensões, destacando produtos locais e sazonais, inspirada nas antigas receitas da avó Claire.
Estava um dia lindo de sol e a minha mesa foi preparada na varanda lá fora, mesmo por cima do Douro.
Tão bonito, tão calmo e relaxante, tão inspirador e até romântico, porque não? 😉 Posso dizer que naquele cenário, podiam-me servir qualquer coisa que eu comia com deleite! Mas de facto não foi apenas “qualquer coisa” que me chegou à mesa naquele almoço.
O menu era extenso, mas aceitei a sugestão do empregado de mesa: sopa de tomate, porco preto com cogumelos e vegetais e pastel de nata desconstruído para adoçar o final. Uma delícia!
Tudo bem regado pelos vinhos Quinta de La Rosa Reserva branco e tinto e os Portos Colheita 2009 e Tawny 20 anos a acompanhar a sobremesa.
Todos os vinhos eram excelentes, como seria de esperar desta casa, mas destaco dois:
Quinta de La Rosa Reserva tinto 2016 – Feito a partir das castas clássicas do Douro este é um vinho que destaca fruta madura acima de tudo o que o torna tão guloso na boca, mas elegante e equilibrado
Porto Tawny 20 anos – eu sou suspeita porque adoro Tawnies, mas este era delicioso! Com uma textura muito aveludada e sabores de frutos secos e especiarias que persistem na boca durante longos momentos
De barriga e coração cheios, subi à loja onde já estava Patricia a receber o pequeno grupo a que me juntei para fazer a visita à Quinta de La Rosa, que começa com a visualização de um curto vídeo sobre a história da quinta e da família que lhe dá vida.
De seguida Patricia levou-nos a visitar a adega dos lagares e sala de barricas, ambas construídas em 1910 por Albert, bisavô de Sophia.
Com 8 lagares de granito e capacidade para armazenar mais de 100 barricas – na altura a maior do Douro – esta cave permanece praticamente igual até aos dias de hoje.
Já dentro da cave, rodeado de barricas e dos seus aromas tão inebriantes (no bom sentido!) o grupo ouviu atentamente a detalhada descrição que a guia fez sobre todo o processo de vinificação. Desde a vindima à composição dos bagos, o percurso da uva dentro da adega até se transformar em vinho, tipos de madeira e muito mais.
Diria mesmo que foi uma pequena aula de viticultura e enologia para quem este mundo do vinho é uma novidade! Muito interessante 😊
Como já tinha provado os vinhos a acompanhar o almoço, dispensei a prova que está sempre incluída na visita a Quinta de La Rosa.
Aliás, a quinta organiza ainda outras actividades durante o ano como prova de azeite e vinagre Quinta de La Rosa, passeios pelas vinhas e pela propriedade acompanhados pelo enólogo Jorge Moreira ou pela própria Sophia Bergqvist ou ainda barbecues privados na piscina.
Recentemente o turismo tem ganho uma maior importância na Quinta de La Rosa, por isso além das visitas e do restaurante, a quinta apostou no alojamento. A quinta tem agora 27 quartos com piscina, sempre com o Douro a espreitar pela janela.
Claire deixou sem dúvida um bom legado à sua neta Sophia que hoje comanda com orgulho este negócio de vinhos que também ele, faz parte da história do vinho no Douro!