A Quinta de Ventozelo é um enoturismo com hotel e restaurante e onde se convida a conhecer “o Douro numa quinta”

O meu namoro com a Quinta de Ventozelo já vem de longe. A primeira vez que tive contacto com a marca foi à beira do rio Douro, em vila Nova de Gaia, tinha o Espaço Cruz acabado de abrir.

Aí tive oportunidade de assistir apenas a alguns vídeos muito bonitos do que seria a quinta no Alto Douro Vinhateiro, e desejei um dia lá ir. Esse dia chegou recentemente e sinto-me uma privilegiada pela oportunidade.

A Quinta de Ventozelo data de 1500, e a produção de vinhos remonta ao século XVIII, mais concretamente em 1788, quando começaram os grandes investimentos vinhateiros na Quinta.

Os seus vinhos tiveram, desde cedo, reconhecimento internacional ao participarem em mostras e exposições no estrangeiro, o que valeu alguma medalhas! É exemplo a exposição de Londres de 1862, onde foi destacada a excelência dos vinhos sob a marca Ventozello, nomeadamente  um Malvasia e Bastardo.

Em 2014 foi a vez da Gran Cruz adquirir a Quinta e começar a transformá-la no que é hoje: uma referência de enoturismo no Douro!

Gran Cruz é, na verdade, a casa mãe que pertence ao grupo francês La Martiniquese, dedicado essencialmente a destilados. Sob o “chapéu” Gran Cruz está a empresa C. da Silva – detentora da conceituada produtora de vinho do Porto, Dalva – a Quinta de Ventozelo e, na Madeira, a Justino’s e Henriques & Henriques.

É natural que, de alguma forma, associe todos estes nomes uns aos outros e agora já sabe porquê.

Mas voltando à Quinta de Ventozelo, é uma marca de vinho do Douro e do Porto cujos vinhos produzidos usam exclusivamente uvas plantadas na propriedade onde a vinha, olival, pomar e floresta convivem pacificamente frente ao rio.

São 200 hectares de vinha, maioritariamente com castas portuguesas – 10 tintas e 7 brancas – apenas o Syrah é estrangeira.

VENTOZELO HOTEL & QUINTA

A quinta foi adquirida em 2014, mas apenas em 2019 inaugurou o Ventozelo Hotel & Quinta.

O hotel tem 29 quartos, espalhados um pouco pela propriedade.

Eu fiquei num dos 6 quartos da Casa Grande, um pouco mais afastada do núcleo central, mas bem mais perto do Douro. Tem a privacidade ideal para uma família ou grupo de amigos, com piscina e cozinha privativa.

Um sossego autêntico, daqueles que nos ajuda mesmo a desligar e acalmar, a respirar ar puro e abrandar o ritmo.

Dali, podemos ir a pé até ao cais do rio de onde – sempre que a temperatura permitir – se pode mergulhar directamente nas águas do Douro.

RESTAURANTE CANTINA DE VENTOZELO

A Quinta de Ventozelo foi, em tempos, uma pequena aldeia onde várias famílias viviam e trabalhavam, e onde não faltava todo o conforto como áreas de lazer, uma capela e claro, a cantina.

Esta Cantina é hoje o restaurante da quinta, aberto todos os dias tanto para hóspedes como para outros visitantes.

Tal como outros espaços da Gran Cruz no Porto, também o Cantina é gerido pelo Chef Miguel Castro e Silva.

Castro e Silva é parceiro da Gran Cruz desde 2010, parceria esta que começou apenas com um desafio lançado pelo produtor de vinho, para o Chef criar o seu próprio néctar.

Desde esse momento, Miguel vestiu a camisola e passou a acompanhar e assinar todos os espaços gastronómicos da empresa, incluindo o Cantina desde 2019.

Hoje o Chef portuense já faz parte da família e foi sem hesitar que aceitou mais este desafio de gerir um restaurante em pleno Douro, mantendo o seu lema de usar apenas produtos regionais e sazonais, baseando-se em receitas tradicionais portuguesas.

Para tal, tem a preciosa ajuda do arquitecto paisagista João Bicho, que é o responsável pela horta da quinta e pelo Jardim dos Aromas. Ali crescem grande parte dos legumes, frutas e ervas aromáticas usadas na cozinha do Cantina.

Recentemente, o Chef Ricardo Lourenço juntou-se à equipa de Castro e Silva. Português emigrado em França muitos anos, voltou a Portugal com saudades dos nossos aromas e com vontade de reproduzir os sabores da comida da sua avó.

Será certamente uma boa aquisição, não só para o Ventozelo mas como para a região do Douro!

VINHOS DA QUINTA DE VENTOZELO

Com cerca de 400 hectares, dos quais 200 são de vinha, a Quinta de Ventozelo é uma das mais antigas e maiores quintas do Douro.

O terroir de Ventozelo reúne as condições perfeitas para produção de vinho tinto, especialmente vinhos licorosos, dada a proximidade ao rio e ao Pinhão, que atribui às suas uvas a categoria A.

Mas nem só de Portos vive o Ventozelo, antes pelo contrário!

O que me levou a visitar a quinta naquele fim de semana foi exactamente o lançamento do Douro Duet Collection. Dois vinhos monocasta, com uvas próprias.

Touriga Nacional – Com cerca de 4,5 ha de vinha ao alto, a Vinha do Colmeal situa-se junto à mata de Ventozelo. Ali, a Touriga Nacional, apresenta os seus característicos aromas florais, assim como fruta vermelha, alguma acidez e muita elegância. Deste dueto, pareceu-me o vinho mais pronto a beber, já no ponto perfeito de consumo.

Touriga Franca – Esta é a casta mais plantada na região Douro, por isso, experiência não lhe falta. É muito versátil e bem adaptada a este terroir. Na Vinha da Serra, a cerca de 300m de altitude, expressa toda a sua rusticidade e frescura. Eu senti alguns sabores balsâmicos e mentolados, além das frutas pretas. Adoro Touriga Franca e acho que este 2019 ainda pode esperar mais uns anos, até ser provado no seu potencial máximo.

Com enologia de José Manuel Sousa Soares, os vinhos da segunda edição da Douro Duet Collection estagiaram 12 meses em barricas de carvalho francês, usadas, de 300 e 500 litros.

A apresentação dos vinhos aconteceu durante um jantar preparado a 4 mãos pelos Chefs Castro e Silva e Lourenço e servido na sala de jantar da Casa Grande.

Noutros momentos daquele fim de semana, tive ainda a oportunidade de provar o branco Malvasia Fina – muito perfumado, tanto no nariz como na boca, ameixa branca pouco madura e por isso ainda com alguma acidez – e o Rosé feito maioritariamente com Tinta Roriz que acabei por beber sem comida mesmo, sentada na varanda do restaurante, a olhar para os socalcos do Douro.

Ah! E claro, não vou esquecer aquele Sousão 2021, que me chegou à mesa em jarro a acompanhar a minha estreia em ensopado de lampreia!

Houve ainda tempo para conhecer a Frasqueira, uma sala escondida por trás dos grandes balseiros no Armazém 1840.

Ali estão guardados os topos de gama, edições especiais e outras relíquias, e onde apenas se organizam provas de vinho especiais.

GIN & AZEITE VENTOZELO

Além dos vinhos, a Quinta de Ventozelo tem outros dois produtos de grande qualidade (falo com propriedade sim!)

Um deles é o Ventozelo Craft Dry Gin que pretende concentrar num frasco todos os aromas que se encontram no bosque, na horta e no pomar da quinta. Reúne botânicos como o zimbro, tomilho-limão, coentros, alfazema, perpétua-roxa, entre outros.

De forma a preservar todos os aromas e sabores, recomenda-se não inventar muito! Consumir com uma água tónica não-aromatizada e gelo. Simples e delicioso!

O azeite é feito de azeitonas de variedades autóctones, onde predomina a Verdeal. Frutado, maduro, com picante e amargo bastante equilibrados e com excelente fim de boca. Perfeito para molhar no pão ou a acompanhar pratos frescos e delicados.

ENOTURISMO NA QUINTA DE VENTOZELO

Além do hotel, restaurante, banhos de rio e diversas provas de vinho, a Quinta de Ventozelo também oferece outras actividades dentro dos seus 400 hectares.

Uma delas é conhecer a floresta que representa 35% da propriedade. E pode explorar esta área de duas formas: ou de jipe, conduzido por alguém da quinta e que o leva até ao ponto mais alto onde tem uma vista incrível sobre a quinta e o Douro, ou a pé!

Sim, a pé também é possível e sem dúvida uma experiência muita mais imersiva!

Além de indicações e sinalética ao longo de todo o percurso, ainda conta com a orientação da App Quinta de Ventozelo. Nesta tem mapas e um áudio-guia que lhe vai relatando os pontos de interesse, animais e espécies vegetais que encontra na sua caminhada.

Eu tenho pena de não ter feito este roteiro, por falta de tempo fiz o passeio de jipe, mas foi na mesma uma aventura!

CENTRO INTERPRETATIVO DE VENTOZELO

Logo à entrada da quinta, num grande edifício contruído no século XVIII, encontra-se um espaço que convida a uma interpretação do território duriense.

Este espaço alberga uma exposição permanente e outra temporária.

A permanente, é uma experiência bastante divertida e interactiva, que convida o visitante a descobrir o Douro através das diferentes áreas da Quinta de Ventozelo, como se ali se reunissem toda fauna, flora, cultura e tradições da região.

Já a exposição temporária está integrada no programa “Artes & Ideias em Ventozelo”

Com curadoria de Manuel Novaes Cabral e de Nuno Faria, este programa conta com um ciclo de seis exposições, que intercalam um artista plástico consagrado, que apadrinha de seguida o convite a um artista mais jovem.

Actualmente está a ter lugar a terceira exposição, da artista plástica Graça Pereira Coutinho, intitulada “SENTIR A TERRA – VENTOZELO”. A entrada no Centro Interpretativo de Ventozelo é gratuita e a exposição temporária pode ser vista todos os dias das 10 às 20h até Abril de 2022

Eu estive na Quinta de Ventozelo dois dias, consegui ver um pouco de tudo mas precisava de mais tempo. O que quer dizer que, se lhe apetecer ficar neste enoturismo por uma semana, actividades não lhe vão faltar.

Mesmo que esteja de chuva, que foi o meu caso… Mas Douro é Douro, sempre lindo!