Chama-se Quinta do Olival da Murta mas são os seus vinhos Serra Oca que contam a história deste projecto familiar do Oeste
Foi no final do Verão, bem depois da vindima, que visitei a Quinta do Olival da Murta.
Naquela altura do ano em que as vinhas perdem a cor verde intensa e ganham os seus tons dourados de Outono. Na altura em que os jovens vinhos começam a “fervelhar” nas cubas e barricas e revelam se foi uma vindima de sucesso.
Por volta das quatro horas da tarde, Joana Vivas e o seu cão Sol receberam-me no pátio frente à adega.
Joana é uma dos cinco primos que gerem agora o projecto. Na verdade, nenhum estava muito dedicado à área da agricultura – Joana, por exemplo é arqueóloga e trabalhava em Lisboa. Mas decidiram juntar-se para dar nova vida à quinta de família. Definiram a viticultura que queriam praticar e criaram a marca de vinhos Serra Oca.
Mas tudo começou com os seus avós, que aqui plantaram vinha essencialmente para vender a uva, pois a região de Lisboa sempre foi uma região com altas produções de vinho, maioritariamente vendido a granel. A par da Pêra rocha, maçã e outras frutas, a uva representa uma grande parte da agricultura da zona Oeste.
Após a morte do avô, ficou a avó Cândida a gerir a quinta mas, não sendo a avó eterna, o negócio naturalmente passou para as mãos das filhas e, actualmente, está ao cuidado dos cinco primos.
Os vinhos Serra Oca são produzidos maioritariamente a partir de castas portuguesas, espalhadas pelos 20 hectares de vinha: Castelão, Touriga Nacional, Tinta Toriz e também Syrah nas tintas, Fernão pires, Arinto e Moscatel nas brancas.
Moscatel, apesar de não ser tão tradicional da região, foi aqui plantado pelo elemento diferenciador que poderia trazer aos vinhos do novo projecto.
Tanto a vinha como os vinhos são tratados sob o princípio da prática biológica e pouco interventiva. A não utilização de produtos químicos aliado a um processo de vinificação lento e natural, origina vinhos genuínos que reflectem bem as características da região.
Quanto ao nome, foi mesmo a proximidade à Serra de Montejunto que o originou. Diz-se que a Serra é oca e que até se pode ouvir o eco do mar lá dentro.
Entrei com a Joana na pequena adega – aproveitada dos antigos lagares contruídos pelo avô – que tem tudo o que é preciso para fazer o vinho acontecer.
No inox estava o Moscatel a fermentar. Este nunca passa por madeira, para que mantenha o seu carácter frutado e aromático. Já o Fernão Pires e Arinto estagiam parcialmente em barrica de carvalho francês usado.
Inicialmente, o projecto contou com a consultoria do enólogo Rodrigo Martins, mas ao fim de dez anos dedicada aos Serra Oca, Joana assumiu a responsabilidade da enologia.
Explicou-me que não gosta de categorizar os seus vinhos como naturais, apenas faz o que o seu instinto lhe diz “faço vinhos que acredito serem genuínos, mais saudáveis e que sabem a vinho. Faço os vinhos assim porque gosto!”
Depois de provados alguns vinhos saídos da barrica, Joana levou-me até ao jardim para fazer a prova dos vinhos em garrafa.
A mesa de pedra debaixo do sobreiro era simplesmente o cenário que eu queria encontrar naquele momento. O sol já começava a baixar e a luz alaranjada iluminava não só a mesa mas as vinhas e a serra por trás de mim.
Em cima da mesa esperava-me um aconchegante lanche com queijo de vaca amanteigado, pão caseiro, tortilha de pimentos (receita da avó espanhola), batata doce frita, azeitonas marinadas e queijadinhas de amêndoa!
Para acompanhar estes petiscos, Joana trouxe toda a gama dos vinhos Serra Oca:
– Serra Oca Moscatel Graúdo 2019
– Serra Oca branco 2018
– Serra Oca Castelão
– Serra Oca tinto 2015 e 2014
Se o Castelão, com a sua acidez e adstringência, corpo e forte sabor de ameixa preta desidratada, juntamento com o queijo já dava o casamento perfeito, então o Branco conquistou-me totalmente.
Este é feito com as três castas brancas plantadas na quinta embora com predominância de Fernão Pires e Arinto e com seis dias de curtimenta – fermentação do sumo com a pelicula da uva, ou seja, aplicar ao vinho branco o mesmo método do vinho tinto.
É um chamado “Orange wine” e ganha este nome não só pela cor mais intensa que obtém, mas também pela estrutura que o vinho ganha ao fermentar com a pelicula. Para mim ficou um delicioso branco de Inverno, seco, boa acidez, cheio de corpo e aromas de casca de laranja e frutos secos.
Acho que este vinho ia bem com tudo que estava em cima da mesa, mas diria que com a tortilha de pimentos ou com as queijadas de amêndoa consegui a harmonização mais feliz!
Além do vinho, a Quinta do Olival da Murta também se dedica à produção de ervas aromáticas e sal de vinho tinto. Dois produtos que complementam e diversificam a oferta da marca.
Despedi-me da Joana já era noite cerrada e nem me apercebi. Estive, portanto, quatro horas nesta quinta a conversar, a aprender e a provar. Adorei e recomendo-vos a fazer o mesmo!
Sou da Póvoa, conhecia o Olival da Murta pela boca dos meus avós, pais e tios mas, embora pareça impossível, por imagens só agora conheci a vossa Quinta.
Ainda bem que a CDU decidiu fazer-vos uma visita e mostrar-vos no “face” pois permitiu-me conhecer-vos de forma mais conveniente.
Aproveito para solicitar-vos que me indiquem comercializadores dos vossos vinhos, nomeadamente em Almada mas, se não os houver por aqui, pelo menos quem o faça no Cadaval. Obrigado.
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