O Cartaxo não voltou a ser o mesmo a partir do momento em que os australianos Andrew Homan e David Clarkin chegaram em 2022 à região do Tejo e criaram a ODE Winery.

Os dois sócios e empresários, com vasta experiência internacional no ramo imobiliário, viram neste recanto ribatejano um tesouro inexplorado e que deveria ser dado a conhecer ao mundo.

Chamaram então ODE ao projecto que nascia de uma antiga adega de 1902, em Vila Chã de Ourique. “Ode” é um tributo poético ao que é belo e um respeito pela natureza: Mínima intervenção, Máxima atenção é o lema desta casa.

Com este lema presente, o primeiro passo foi a conversão dos 22 hectares de vinha já existentes, para produção biológica.

Aos poucos foi-se também introduzindo princípios da agricultura sintrópica, regenerativa assim como animais no processo – ovelhas, por exemplo – para aumentar a biodiversidade na quinta.

As vinhas estão localizadas apenas a alguns minutos do edifício principal da adega, integradas numa propriedade de 96 hectares onde o montado e o olival também desempenham o seu papel neste ecossistema.

De volta à adega, a enóloga Maria Vicente orgulha-se do trabalho que está a ser feito, muito baseado no respeito pelas características de cada casta, mas ao mesmo tempo muito criativo entre fermentações em ovo de cimento, estágios em talha e envelhecimentos em madeira.

Para Maria, ‘elegância’ e ‘irreverência’ são as palavras que melhor caracterizam os 11 vinhos produzidos actualmente na quinta

Paralelamente à ODE Winery, foi desenvolvido também o conceito de ODE Farm & Living que inclui o restaurante e outras actividades turísticas associadas à natureza e agricultura biológica.

No restaurante Cellar Door o menu tem forte influência asiática complementada com ingredientes locais. Destaque para as combinações improváveis do vinho Enóloga branco 2022 com carpaccio de lombo e gengibre e o Touriga Nacional Única 2023 com barriga de porco assada e kimchi.

Uma visita de enoturismo na ODE tem um percurso que leva o visitante a vários momentos no tempo. Começa na adega construída no inicio do séc. XX onde se mantêm o laboratório e destilaria originais, seguindo por um imenso corredor de balseiros e lagares de granito.

Descendo as escadarias da cave de barricas, chega a uma sala de provas subterrânea inesperadamente cinematográfica.

A visita pode ser complementada com prova de vinhos directamente das cubas e barricas; uma experiência de “enólogo por um dia”; workshops de vinho ou mesmo com um almoço harmonizado no Cellar Door.

Junto ao restaurante e com grandes portas viradas para o jardim, está o salão de eventos com capacidade para 850 pessoas, iluminado pelos imponentes e distintos lustres circulares espalhados pela sala.

O enoturismo na ODE foi pensado de raiz pelo que, a juntar às experiências já disponíveis na adega, está projectado um resort de luxo na quinta.

Em torno das vinhas, sobreiros, oliveiras e um extenso lago artificial vai nascer um hotel com 30 suites, 20 villas, um glamping, Spa e mais um restaurante.

O projecto deverá ser inaugurado dentro de dois anos e está prevista a criação de 400 postos de trabalho.

Segundo Jim Cawood – Director of Wine & Good Times – o resort vai perfeitamente de encontro às práticas de sustentabilidade da empresa, ao empregar população local e atrair visitantes de todo o mundo a Vila Chã de Ourique.

Todo o conceito desta adega é ambicioso, mas sempre com os pés assentes no chão. A região do Tejo já merecia uma ODE assim!

Artigo publicado na Revista de Vinhos edição Maio 2024