Haverá muitos lugares onde se pode fazer um picnic à sombra de uma oliveira milenar? No Morgado do Quintão é possível e é inesquecível!
Tenho andado empenhada em descobrir mais dos vinhos do Algarve e provar que nesta região também se faz muito e bom enoturismo.
O Morgado do Quintão estava na minha lista há muito tempo e finalmente fui conhecer este lugar que tanto ouvi falar.
Movida inicialmente pelos misteriosos rótulos, depois pelos relatos de quem provava os vinhos e por último, a oportunidade de fazer uns dias de férias no Algarve (algo que não fazia há uns bons 15 anos!)
Este lugar conta já com duzentos anos de história, desde que pertenceu ao Conde de Silves – que nessa altura era a capital do Algarve. Conde de Silves era um apaixonado pelo vinho do Algarve e foi ele quem plantou as primeiras vinhas do Morgado do Quintão.
Desde aí sempre pertenceu à família Caldas de Vasconcelos. Foi Teresa Caldas de Vasconcelos – mãe do actual proprietário – a responsável por dar continuidade às castas nativas já em produção.
Uma mulher decidida em manter o legado, contrariando todas as recomendações que ouvia para re-enxertar noutras castas, inclusivamente internacionais. Recusou-se a fazer isso por ser uma amante do Algarve e do que é genuinamente algarvio!
Após a morte de Teresa, foi o filho Filipe que abraçou no projecto de família e em cinco anos fez do Morgado do Quintão o que é hoje. As vinhas já existentes na quinta, foram recuperadas – algumas com mais de 65 anos! – em modo totalmente biológico e de sequeiro (ou seja, sem rega)
Os 13 hectares de vinha estão plantados entre o mar e a serra de Monchique, onde sopra sempre um vento leve, mesmo que os dias estejam bem quentes. Apenas três castas estão aqui plantadas: Negra Mole, Castelão e Crato Branco (também chamada Roupeiro noutras regiões).
Também os antigos celeiros e armazéns da quinta foram arranjados e transformados em salas de prova, refeições e alojamento local.
Filipe tem vindo a contar com uma preciosa ajuda de Duarte, que desde a renovação da quinta, tem-se dedicado ao Morgado do Quintão como sendo também sua. Foi Duarte que nos recebeu e nos foi contando todos os detalhes desta quinta.
Debaixo de uma imponente oliveira com mais de dois mil anos estava já à nossa espera uma mesa cheia de queijos, enchidos, saladinhas frias, pão, azeite e claro vinho!
Provámos 6 dos 7 vinhos que compõem a gama do Morgado do Quintão. Começámos pelo Branco Crato branco – com o rótulo branco – seguimos para o Clarete Negra Mole – por ser um tinto com pouca cor tem rótulo azul – e ainda o Palhete que por misturar uvas brancas e tintas têm um rótulo às riscas azul e branco! Simples e bonito 😊
Já no vinho Castelão, o rótulo exibe uma bonita peça de Teresa Caldas de Vasconcelos, que além de empresária agrícola por herança familiar, era também artista plástica e professora universitária de arte e história de arte.
Adorei o vinho Palhete mas confesso que fiquei fascinada com a casta Negra Mole, autóctone do Algarve. A Negra Mole é uva com pouca cor, quem olha para ela ainda na vinha diria que não sai da fase pintor – pintor é a fase em que tanto as uvas brancas como as tintas, passam de fase verde a fase madura e aí ganham as respectivas cores.
Pessoalmente, achei a Negra Mole muito semelhante ao Pinot Noir, mas em melhor claro! A pouca cor da uva faz vinhos com pouca concentração mas ainda assim muito aromáticos e frutados, que sabe bem beber fresco à beira da piscina!