Os portões automáticos do Monte Herdade da Fonte Santa abrem-se lentamente para uma alameda de oliveiras que nos leva ao edifício principal da Mainova.  A partir daí, a criatividade e noção estética estão, de facto, muito presentes em todos os recantos desta herdade em que a adega é o elemento central.

A família Monteiro, proprietária, tem um longo percurso no mundo da cerâmica. Quando em 2008 adquiriu este pedaço de terra no Alentejo, a relação com a arte não podia ser esquecida e foi transportada para a criação de um espaço com elegância, design, alguma ousadia e com visão.

Actualmente, é Bárbara Monteiro – a filha “Mainova” da família – que está à frente deste projecto de vinhos iniciado pelos pais. Bárbara, juntamente com o marido João, mudou-se de Fátima para o Alentejo e tem-se dedicado inteiramente a esta nova vida entre vinhos e azeites.

A poucos quilómetros da cidade de Évora, mais concretamente no Vimieiro, a Mainova tornou-se um ponto de paragem obrigatório para os amantes de vinho que visitem a região.

São 200 hectares de terra com vinha, olival e sobreiros em solos maioritariamente graníticos e xistosos. Nas vinhas encontra-se, entre outras castas, a Touriga Nacional, Alicante-Bouschet, Verdelho e até mesmo Encruzado e Baga. Estas castas são bem trabalhadas por Sandra Sarria e António Maçanita, os enólogos que transformam as uvas em arte engarrafada.

Também aqui, se dão asas à imaginação e se procura criar “peças de arte” diferentes, ousadas e intrigantes.

Das 5 gamas – Mainova, Moinante, Mainada, Milmat e Matremilia – nascem 14 referências de vinho. Destes, existe um Mainada Baga (sim, no meio do Alentejo,) um Mainova Dupla Curtimenta feito a partir de Antão Vaz, Arinto, Verdelho e Encruzado, ou um Matremilia, um vinho 100% Alicante-Bouschet feito em homenagem à avó Emilia, inspiração constante na família Mainova.

Na prática agrícola, a sustentabilidade é um cuidado visível. Todos as uvas são de produção biológica, a vindima é feita manualmente e de noite (para preservar o potencial máximo da uva) e os vinhos têm certificação Vegan.

Desde que assumiram a gestão do projecto em 2019, Bárbara e João perceberam que o enoturismo seria essencial para levar a marca o mais longe possível, pelo que tudo foi pensado de raíz para receber visitantes na adega. Vinhos e enoturismo nasceram juntos e têm feito um caminho muito consistente, lado a lado.

Sempre que visitei a Mainova fui muito bem recebida por Bárbara e João ou por qualquer membro da equipa. Todos vestem a camisola por este projecto.

Na minha primeira passagem pela Mainova fiz uma volta de jipe pelas vinhas, olival até ao alto do monte onde uma majestosa oliveira com mais de 2000 anos se mostra sábia e tranquila.

Tive também oportunidade de viver as várias experiências disponíveis: provas de diferentes categorias de vinho acompanhadas de tábua de queijos e enchidos regionais, picnics à sombra da oliveira antiga, workshops de pão, showcooking com o Chef João Narigueta ou mesmo programa de vindima nocturna (actividade sazonal) com dormida em tendas especialmente preparadas para esses dias.

No andar superior do edifício principal, a sala de eventos tem uma cozinha perfeitamente equipada, muita luz natural e vista para a vinha e olival, tornando-se palco de provas especiais, almoços vínicos e até mesmo aniversários ou outros eventos sociais.

Um detalhe importante em todos estes momentos, é a cerâmica personalizada à marca, para lembrar as origens da família Monteiro assim como a sua ligação ao que é artesanal, português e de qualidade.

Se os vinhos são a estrela da Mainova, o azeite está a ganhar cada vez mais respeito e protagonismo. Actualmente são 2 as referências de azeite que podem ser provadas, de forma técnica e profissional, numa das actividades de enoturismo.

Não lhe apetece fazer nenhum programa, com reserva e horário fixo? Não deixe de ir à Mainova. Suba ao primeiro andar, peça uma garrafa de vinho e apenas fique na varanda a observar e absorver o verdadeiro Alentejo aos seus pés.

Artigo publicado na Revista de Vinhos edição Maio 2024