Na Tapada de Coelheiros, o vinho nasce lado a lado com muitas outras culturas e isso é o que torna uma visita a este produtor alentejano, tão fascinante!

Fui à herdade de Coelheiros para conhecer melhor o seu enoturismo. Vim de lá com uma ideia algo diferente… porque nos 800 hectares de propriedade, o vinho é apenas um dos muitos elementos de um ecossistema pensado e desenhado ao detalhe.

Alguma história…

Comecemos pelo inicio: esta propriedade na Igrejinha – Arraiolos, data de 1467, ou pelo menos é este o primeiro registo histórico destas terras.

Desde então, teve vários diferentes proprietários como Dom Ruy de Sousa – autor do Tratado de Tordesilhas – ou Conde da Azarujinha – com quem surgiram os primeiros registos de vinhas.

Os anos 80 marcam um novo capitulo na história de Coelheiros, com a passagem de testemunho para Joaquim e Leonilde Silveira. Estes foram responsáveis pela plantação das nogueiras e introdução de novas castas, incluindo estrangeiras, algo muito ousado e inovador para a época.

Em 1991, o primeiro vinho da Tapada de Coelheiros sai para o mercado.

Em 2015, Coelheiros chega finalmente às mãos de Alberto Weisse, actual proprietário e residente na herdade. Foi exactamente com esta última aquisição, que a marca tomou o rumo que conhecemos hoje.

Esta etapa é marcada pela renovação da imagem, até então bastante conservadora e tradicional. Os rótulos surgem assim com uma interpretação mais moderna do famoso tapete de Arraiolos.

É também nesta altura que o bairradino Luís Patrão, já bem habituado à lide alentejana, se junta à equipa e se mantém responsável pela enologia até hoje.

Surge o Enoturismo…

Com todas estas transformações, o próximo passo tornava-se bastante óbvio: abrir portas ao enoturismo! Foi em 2022 que a adega definiu os seus programas de enoturismo e oficialmente começou a receber visitantes de todo o mundo.

Visitei no final de Setembro, com um programa que começou com um almoço na casa principal da herdade: um belo javali com batatas assadas, preparado pela D. Felicidade.

Tal repasto foi acompanhado pelo Tapada de Coelheiros 2018 tinto, feito 70% de Cabernet Sauvignon e 30% de Alicante-Bouschet. Este blend já dá a entender a intensidade de sabor, fruta preta e chocolate, bastante encorpado e com final longo.

Depois do almoço, a aventura começou! Num jipe Defender conduzido por João Raposeira – responsável pela viticultura e ecossistemas – fiquei a conhecer todos os recantos da propriedade.

Neste pedaço de Alentejo, entre outras culturas, existem 53 hectares de vinha em modo de produção biológica, umas com cerca de quarenta anos e outras com apenas alguns meses, 60% estão em sequeiro (sem rega)

Deu-se primazia às castas nacionais como o Arinto, Alvarinho Tinta Miúda, Roupeiro, Antão Vaz, Alicante Bouschet, Touriga Franca, Touriga Nacional mas também às estrangeiras Syrah, Cabernet Sauvignon, Petit Verdot e Chardonnay.

Mas a vinha não é tudo!

Além da vinha, 40 hectares do território são de pomar e uma vasta área de montado onde pastam livremente ovelhas, veados e gamos. A riqueza da sua biodiversidade inclui ainda uma parte de olival e outros animais como patos, lebres e coelhos. 

E foi a meio deste “safari” alentejano proporcionado pela Herdade de Coelheiros, que comecei a ter dúvidas sobre a atribuição do conceito Enoturismo para o que se faz aqui.

Sendo João Raposeira o gestor agrícola da herdade e tendo um profundo conhecimento daquelas terras, uma visita de “enoturismo” tornou-se uma fascinante aula de biologia, biodiversidade e sustentabilidade.

João levou-me a conhecer todas as distintas parcelas de vinha, com diferentes exposições solares, solos e mesmo diferentes sistemas de rega.

Falou-me da agricultura regenerativa que praticam e explicou-me como cada espécie vegetal e animal – especialmente aves e insectos – contribuem para o bom funcionamento do ecossistema.

No final de Setembro, a vindima já estava concluída mas outra colheita importante se iniciava: as nozes. As nogueiras e a produção de noz têm um peso significativo na actividade agrícola da casa.

São vários os pomares que habitam estas terras, tendo o mais antigo nascido nos anos 90. Em diferentes pomares, produzem-se diferentes variedades de nozes.

Não só tive oportunidade de comer uma noz caída directamente da árvore, como entrei no pavilhão das nozes e assisti ao processo de lavagem, seleção e secagem deste fruto seco, que tanto gosto de comer mas do qual eu sabia tão pouco.

A viagem pelos muitos hectares de Coelheiros terminou já perto no pôr-do-sol quente de inicio de Outono. Continuo sem saber bem o que lhe chamar, se enoturismo, ecoturismo, agroturismo… mas também não importa muito, adorei a experiência e voltava a fazer tudo de novo!