Herdade da Malhadinha Nova: é por muitos considerada o melhor enoturismo de Portugal e eu fui descobrir porquê!
A família Soares sonhou e a Herdade da Malhadinha Nova nasceu! Tudo começou por um supermercado no Algarve que cresceu para uma cadeia de 15 garrafeiras por terras do sul.
Mas a vontade de crescer e fazer mais estava no sangue desta família. Por isso, em 1998 adquiriram uma herdade em Albernoa, Beja, com cerca de 600 hectares. E estava tudo por fazer!
Recuperaram umas quantas ruinas, construíram novos espaços comuns, uma adega bem enquadrada na paisagem e com funcionamento por gravidade, plantaram a vinha e, aos poucos, a Malhadinha começou a ganhar forma.
Em 2003 lançaram a primeira colheita para o mercado, seguido da produção de azeite. As portas do hotel rural abriram finalmente em 2008.
Também o projecto hoteleiro teve várias fases, evoluindo sempre de forma muito consistente, consciente e sustentável, pensando a longo prazo, mas sempre com uma boa dose de ousadia!
Hoje, a realidade da Herdade da Malhadinha Nova (HMN) é bastante diferente. Aderiram ao grupo hoteleiro de luxo Relais & Chateaux o que os levou a seguir determinados padrões de qualidade e a procurar servir os hóspedes com o maior conforto possível.
O hotel é composto por 6 espaços de alojamento com um total de 19 suites. Estão distribuídos por diferentes áreas da herdade pelo que é necessário carro (próprio ou do hotel) para a deslocação entre os quartos, o restaurante, o M Wellness Spa – com assinatura do atelier Aires Mateus – e outros espaços de lazer espalhados pela propriedade.
Quanto à actividade agrícola, esta conta com:
- 80 hectares de vinha 100% biológica desde 2019
- 26 vinhos da marca Herdade da Malhadinha Nova (recentemente lançaram a marca Teixinha, com vinhas de Portalegre)
- olival tradicional e 1 marca de azeite
- mel biológico
- coudelaria de cavalo Puro-Sangue Lusitano
- produção de Porco Preto Alentejano, vaca alentejana e Ovelha Merina
A Herdade da Malhadinha Nova já arrecadou inúmeros prémios de turismo como por exemplo “Hotel de escapada internacional” em 2021 pela Condé Nast Traveler ou em 2023 o “Prémio Nacional de Enoturismo” pela Associação Portuguesa de Enoturismo, apenas para referir alguns.
Já os vinhos, são frequentemente reconhecimentos em vários concursos internacionais.
Mais recentemente, levou para casa uma estrela Verde, do Guia Michelin, dedicado aos restaurantes com as melhores práticas na área da sustentabilidade.
O compromisso com a sustentabilidade tem sido um assunto sério nesta casa começando pela agricultura, como já mencionado, mas também na rentabilização de recursos na adega, utilização de produtos locais na decoração do hotel, produção de gado de raças autóctones e, falando especificamente do restaurante, cozinha com produtos vindos da horta biológica.
Posso afirmar que, em muitos aspectos, a Herdade da Malhadinha Nova como unidade de enoturismo tem excelentes práticas que servem de inspiração aos profissionais de turismo, hotelaria e claro, de enoturismo.
Na verdade, foi nesse âmbito que fui passar um fim de semana à herdade: se este é considerado o melhor enoturismo de Portugal, eu quero conhecer e aprender com ele!
Ao associar-se à marca Relais & Chateaux em 2020, o hotel demonstrou um compromisso em atingir a excelência e o luxo na hotelaria e enoturismo em Portugal. E, na minha opinião, já atingiu esses objectivos em diversas áreas.
RESERVA
Digo sempre nos meus cursos que a experiência vínica ou turística começa no momento da reserva e a HMN esteve perfeitamente à altura. Primeiro, porque no email de confirmação de reserva com todos os dados da estadia, antecipou-se e enviou também um anexo com todas as actividades disponíveis na herdade, oferecendo ajuda na organização do programa do fim de semana.
No dia antes do check-in, recebi novo email com um formulário para completar a reserva, onde me pediam para partilhar algumas preferências pessoais como: tipo de vinho, estilo de música, artista, composição da almofada e que actividades teria mais interesse em fazer durante a estadia.
Esta é um dos primeiro pontos de contacto com o futuro cliente, pelo que a possibilidade de gerar emoção e criar laços apenas com um formulário é brilhante e não é difícil de pôr em prática.
PERSONALIZAÇÃO
Algo que vou elogiar bastante são os recursos humanos da HMN e começo já neste ponto da personalização. Não só todos estavam devidamente fardados, e isso implica estarem identificados com um nametag, todos espontaneamente se apresentavam ao cliente, fosse na recepção, restaurantes, enoturismo, spa, etc. Da mesma forma, trataram-me pelo nome sempre que possível.
Ainda no tema da Personalização, penso que a HMN podia ter ido um pouco mais longe se tivesse aproveitado a informação do formulário de reserva. Eu sou fã de músicas étnicas do mundo, seria perfeito se no iPad disponível no quarto, estivesse já preparada uma playlist com este estilo de música 😉
VARIEDADE
É de facto, impressionante a quantidade de actividades disponíveis ao longo do ano para os visitantes da Herdade da Malhadinha Nova.
Se defendo que o enoturismo é um tipo de turismo que ultrapassa o vinho e as próprias adegas, que a verdadeira sustentabilidade é explorar a cultura local, conhecer as pessoas e tradições que envolvem o vinho, também admiro os enoturismos que reúnem uma quantidade apreciável de actividades que permitam aos seus visitantes passar vários dias no mesmo lugar sem nunca sentir tédio ou rotina.
No caso da Malhadinha, muitas das experiências são proporcionadas com recursos próprios: possuem várias Moto4 para passeios pela herdade, têm um apicultor permanente (o Sr. Joaquim) a cuidar das abelhas que produzem o mel de marca própria, têm um spa recentemente remodelado (decorado em tons verde para se integrar na paisagem de vinhas), aulas de olaria, passeios de cavalo da sua coudelaria, showcooking, passeios de balão e muitíssimo mais.
LOCAL
Um dos pontos visíveis no caminho à sustentabilidade é sem dúvida a preferência pelas marcas e produtos nacionais. Estes são usados como amenities nos quartos mas também estão disponíveis para comprar na loja. Atoalhados, torneiras, sabonetes e muito mais foram escolhidos tendo em conta a origem portuguesa.
Um dos detalhes que gostei foi de saber que o pavimento do quarto onde fiquei – Casa do Ancoradouro – era feito de tijolos feitos à mão por um artesão local. Não sei quantos paralelepípedos de tijoleira estavam naquele chão, mas sei que demoraram uns quantos meses a fazer e seguramente foi um investimento financeiro avultado, mas que a Malhadinha se orgulha de ter feito.
PRONTIDÃO
Logo no check in é-nos informado que toda a comunicação é feita por whatsapp. Ou seja, informar horários de actividades, combinar recolha com o transfer, referir que falta algo no quarto, por exemplo, é tudo feito por esta via para que não se perca informação, que fica registada.
Qualquer que fosse o pedido ou pergunta, mesmo feito por mensagem, era respondido no minuto sem qualquer demora.
As pessoas são sempre quem faz a diferença quando se trata de enoturismo. E este é, sem dúvida, o maior luxo que a Herdade da Malhadinha Nova pode ter!
Pessoas como a Carolina, Bruno, Beatriz e todo o staff estão de parabéns pela forma como integram a equipa e fazem os hóspedes sentirem-se especiais.
NOTA FINAL
A Herdade da Malhadinha Nova é, efectivamente, um excelente exemplo de enoturismo nacional, que deve ser visitado e visto como fonte de inspiração para muitos projectos de enoturismo pelo país. Mas parece-me importante referir que este não é único modelo de sucesso possível!
Em Portugal temos centenas de enoturismos mais pequenos, com longa história, edifícios centenários, gerações inteiras dedicadas ao vinho que podem igualmente encontrar o seu lugar e ser uma experiência vínica incrível.
É preciso é ter muita paixão e dedicação, que “como diz o outro”, a sorte dá muito trabalho!!