Enoturismo em Távora-Varosa: uma região de vinhos marcada por monges, mosteiros e espumantes
Esta é uma das mais pequenas regiões de vinhos do país e quase exclusivamente dedicada à produção de vinho espumante. Aqui estão das mais reconhecidas caves de espumantes portugueses.
A região Távora-Varosa ganha nome dos dois rios que a atravessam – rio Távora e rio Varosa. Está muito associada à história dos Monges de Cister, uma ordem que teve grande importância na cultura da vinha e produção de vinho em Portugal e, especificamente nesta região, foram responsáveis pela plantação das primeiras vinhas e por construir diversos Mosteiros.
Um roteiro de enoturismo por Távora-Varosa deve então, incluir visita a caves de produção e envelhecimento de espumantes, mosteiros e todo o património religioso, sem esquecer a castanha, outra cultura de grande peso por aqui.
Vinhos
Principais castas brancas: Bical, Cerceal, Chardonnay, Códega do Larinho
Principais castas tintas: Tinta Roriz, Pinot Meunier, Pinot Noir, Tinta Barroca
Aqui nascem alguns dos melhores espumantes nacionais essencialmente brancos, muito aromáticos e frutados. Também produz vinhos tranquilos – brancos, rosés e tintos – mas com menos expressão.
Enoturismo em Távora-Varosa
| ADEGAS A VISITAR |
Caves da Raposeira, Lamego
Fundada em 1898 pela família Valle, a Raposeira é o mais antigo e maior produtor de espumante no país. Para uma produção de 2 milhões de garrafas/ano são necessárias uvas de mais de 400 pequenos produtores, distribuídos um pouco pelas duas regiões vitivinícolas do Douro e Távora-Varosa.
As caves húmidas com bolor no tecto – grande parte delas escavadas por baixo das vinhas – ainda abrigam muitas garrafas mas a demanda e o crescimento da empresa levou a que grande parte da produção seja, hoje, mecanizada.
A visita às Caves da Raposeira foca-se muito mais na história da empresa, de como tudo começou, de como os processos de produzir espumante nos finais do séc. XIX eram muito diferentes e muito mais morosos.
Tudo era feito à mão: desde o enchimento, colagem de rótulos, o enrolhamento, colocar o muselet (aquele arame em volta da rolha da garrafa), a construção das caixas de madeira e marcação a fogo da marca Raposeira. Tudo era manual e feito individualmente.
Recomendo muito que se visite primeiro as Caves da Raposeira e de seguida a Murganheira!
Vinho que recomedo:
RAPOSEIRA VELHA RESERVA BRUTO 2016- Chardonnay e Cerceal
Apesar dos anos de estágio, este espumante apresenta muita vida. No nariz, aromas tropicais mas na boca, um pouco mais de complexidade a lembrar alperce desidratado. Bolha fina e elegante. Um espumante indicado para todos os dias.
Murganheira, Ucanha
Murganheira – a “irmã mais nova” nascida nos anos 40 – fundada pelo senhor Acácio, morador do lugar da Murganheira (daí o nome da empresa).
Conta a história que este senhor era fabricante de tecidos de grande qualidade – de tal forma que um dos seus clientes era a casa Louis Vuitton.
Mas como bom português nascido em região de vinhos, Acácio tinha também os seus pés de videira e por piara fazia um bom vinho que levada consigo para as mais prestigiadas feiras de tecidos em Paris. Foi lá que conheceu o então enólogo da famosa Moët et Chandon que provou o seu vinho branco e lhe disse que aquele vinho tinha qualidade para fazer espumante.
Desafio aceite e assim começou o trajecto da Murganheira no mundo dos espumantes.
Nesta casa, ao contrário da Raposeira, só se produzem vinhos DOC Távora-Varosa com uvas próprias e compradas. São mais de 42 castas usadas para os espumantes Murganheira sendo a Meunier (casta clássica de Champanhe) a que melhor se dá ali no terroir de Távora-Varosa.
Durante uma visita às Caves da Murganheira, é-nos explicado todo o processo de produção e envelhecimento do espumante – que não sai para o mercado com menos de três anos em fermentação, mais 6 meses após degorgement.
O estágio é feito em grutas de granito azul cavadas também debaixo de vinha própria, localizadas entre os 600 e os 800 metros de altitude.
Podemos ainda ver como funciona a remouge aqui, maioritariamente feita à mão! Um trabalho de grande precisão e paciência já que demorar muitas horas a girar todas as garrafas, 1/8 de volta de cada vez.
Vinho que recomedo:
MURGANHEIRA MILLESIME 2011 – Pinot Noir e Chardonnay
Logo no nariz, é evidente o aroma de tosta resultante de batonnage em garrafa. Na boca, mantém-se o perfil intenso, revelando mais a fruta primária e acidez natural. Bolha fina mas persistente.
Raposeira & Murganheira
Marta Lourenço, enóloga das duas empresas, afirma com segurança que o maior segredo da qualidade dos vinhos de Távora-Varosa reside no terroir da região: solos graníticos, altitude e grande amplitudes térmicas ao longo do ano que originam uma matéria prima perfeita para a produção de espumantes.
A partir daí, basta tratar muito bem as uvas na adega e garantir que elas seguem o rumo certo.
Apesar de diferentes, Murganheira e Raposeira têm em comum um forte carácter familiar que parece incompatível com os muitos milhões de garrafas que preenchem as caves escuras e bolorentas.
São vários os colaboradores que completam mais de 40 anos de casa, tratam as pupitres por “tu” e espelham na cara o orgulho de pertencer aos dois dos maiores nomes do espumante em Portugal.
Quinta de Cravaz, Tarouca
Esta quinta em Tarouca é um pequeno tesouro com muita história para contar.
A origem desta quinta data de 1221 e até hoje permanece na mesma família. Sempre houve vinhas e vinho nestas terras pelo que os actuais proprietários decidiram honrar os seus antepassados com a produção de espumante sob o método ancestral: aquele usado originalmente pelos monges de Cister.
Quem gere a quinta e os seus vinhos é Domingos Nascimento, que mostra um grande orgulho no trabalho que se faz na Quinta da Cravaz e tem um enorme gosto em receber todos os visitantes. “Cravaz” significa “rocha com água” e, de facto, água é coisa que não falta ao redor da quinta!
Quanto aos vinhos, existem 4 referências: Cravaz Touriga Nacional, Cravaz Alvarinho, Cravaz Malvasia Fina e Cravaz Vinhas Velhas (com mais de cem anos). Cada ano produzem-se exactamente 3333 garrafas, cada uma com o preço de 33,30€
Numa viista à Quinta de Cravaz passamos pelas vinhas – novas e velhas – pela casa da familia, faz-se prova na cozinha velha e paramos na cave de envelhecimento onde se cumpre a tradição de abrir uma garrafa em modo degorgement.
Nenhuma visita está completa sem visitar a impressionante Capela de Nossa Senhora de Nazareth, de 1624. Os seus frescos no tecto e azulejos na parede revelam uma longa história e riqueza daquela capela. Este ano, a capela cumpre 4 séculos e terá um vinho feito em sua homenagem!
| ONDE DORMIR |
Quinta dos Padres Santos, Tarouca
Bem no centro da região, em Tarouca encontrei a Quinta dos Padres Santos, um alojamento rural muito bem arranjado e adaptado de antigas casas dos monges de Cister.
Na verdade, a quinta está localizada em pleno Caminho dos Monges, um percurso que une Tarouca a Lamego, percorrido pelos monges há muitos séculos.
A Quinta dos Padres Santos pertence à D. Lina que se dedica a este espaço com muito carinho. É uma casa muito acolhedora, sossegada, com um enquadramento natural muito bonito. Tem pequeno-almoço todas as manhãs e almoços e jantares a pedido.
Recentemente investiram num spa com sauna, banho turco e – a parte onde passei mais tempo – o jacuzzi com vista para a montanha!
| ONDE COMER |
Tasquinha do Matias, Ucanha
Este restaurante foi-me amplamente recomendado por muita gente, logo, não podia deixar de provar. A Tasquinha do Matias, situado mesmo aos pés da Ponte e Torre de Ucanha, é um espaço muito acolhedor e com bastante oferta gastronómica.
Mas sendo conhecida pelos seus Milhos de Vinha d’Alhos, foi isso mesmo que comi, juntamente com um leite creme para sobremesa. Um restaurante de paragem obrigatória em Távora-Varosa.