Mora pode parecer uma zona improvável para um fim de semana de enoturismo no Alentejo. Vou-lhe mostrar que tem muito que ver e viver!
MONTE DA RAPOSINHA
“Raposinha” era o nome que carinhosamente chamavam a Rosário quando era pequena e brincava horas a fio pelo monte, ao lado da barragem de Montargil.
Hoje é o seu filho João Ataíde e a mulher Paula que mais tempo passam entre as vinhas e adega do Monte da Raposinha.
Dizem ser um Alentejo improvável já que se situa na fronteira com a região Tejo. Mas as castas não deixam mentir: Alicante-Bouschet, Trincadeira, Aragonez, Touriga Nacional e Antão Vaz são algumas das variedade que encontramos plantadas nos 15 hectares de vinha.
Ao longo do canal do Sorraia que atravessa a propriedade – sistema de irrigação que abastece uma grande parte dos terrenos agrícolas na região –, encontramos ainda montado, olival e pinhal.
Uma visita de enoturismo ao Monte da Raposinha passa pelos mais importantes momentos da produção de vinho: da vinha, à adega de vinificação até ao envelhecimento na sala de barricas, todas de carvalho francês.
E, tal como se deseja, termina com uma prova na loja do monte. Provei 4 vinhos: Monte da Raposinha Reserva branco, Reserva tinto, Grande Reserva tinto e Ensaio Rosé Touriga Nacional.
‘Ensaio’ é uma gama criada recentemente e foi a que mais me despertou atenção. Como o nome indica, tratam-se de ensaios feitos por Paula e João, que correram bem!
Feitos de uvas provenientes de vinha biológicas, os Ensaios são sempre vinhos monocasta – variando de ano para ano – com estágio apenas em inox.
Gostei muito do Rosé, leve em aroma e sabor, com acidez vincada, mas fiquei bastante curiosa por provar o Trincadeira tinto, que se apresenta como um tinto leve de Verão. Talvez numa próxima visita!
O Monte da Raposinha dispõe ainda de uma casa que pode ser alugada por inteiro, por famílias ou grupos de amigos. A casa tem 5 quartos e a estadia inclui pequeno almoço, assim como uma prova de vinhos e um vinho de cortesia, que pode ser bebido tranquilamente na piscina com vista para o montado e vinhas.
Uma excelente visita para quem quer desfrutar a qualidade do enoturismo no Alentejo.
LILASES BOUTIQUE HOUSE & GARDEN
Ali bem perto, fiquei a dormir no mais recente hotel de Mora: Lilases Boutique House & Garden.
Este hotel de charme era uma casa senhorial do século XIX. A nova gerência fez questão de manter a decoração, história e traços originais, sendo possível identificar a arquitetura e pormenores decorativos desse tempo.
Depois, dedicou-se a criar um ambiente e serviço personalizado para os hóspedes ao mesmo tempo que dá a conhecer o melhor que o Alentejo tem para oferecer.
Foi-me atribuído um quarto situado numas águas furtadas – as Mansardas – com o Alentejo a perder de vista. Dormi a noite toda de janela aberta, tal era o silêncio lá fora. Tinha ainda uma pequena varanda junto a umas das mais bonitas chaminés alentejanas que já vi.
O pequeno-almoço é servido à carta e à hora que o hóspede quiser, na sala lilás ao estilo jardim de Inverno e inspirado pelas flores que preenchem os jardins do hotel.
Passei a tarde na espreguiçadeira à beira da piscina com um livro na mão. Só me mexi para dar uns mergulhos e para almoçar na esplanada à sombra das ameixieiras.
Pedi uma tábua alentejana, composta por enchidos, azeite, cogumelos salteados, salada de ovas, conservas de rio, cenouras em vinagre, azeitonas e pão.
Nota-se que tudo foi pensado ao pormenor, desde a decoração aos pequenos mimos. Mas o que faz a diferença no Lilases Boutique House & Garden é a excelente hospitalidade de Rui Sousa – proprietário sempre presente – e da sua equipa, que nos fizeram sentir muito bem-vindos.
Foram dois dias que souberam a verdadeiras férias!
TASCA “O GIGANTE”
Gigante só o dono Énio, que é realmente alto. Já a sua tasca é muito pequena por isso certifique-se que marca mesa com antecedência. Não foi o que eu fiz… cheguei sem reservar, tive que esperar!
Mas logo enquanto esperava fui servida de um queijo curado e um copo de vinho para não ficar a seco.
Assim que vagou mesa (já perto das 22h!) começou o desfile daquelas iguarias alentejanas que não conseguimos resistir.
Entre ovos mexidos com espargos, pataniscas de polvo e rabo de boi estufado com migas, aquela que ficou no meu coração (e ainda a salivar até ao momento) foi a sopa de cação! Incrivelmente deliciosa!!
A seleção de vinhos também é muito boa, focada nos produtores alentejanos.
Esta é uma paragem obrigatória para um fim de semana de enoturismo no alentejo.
Um espaço pequeno, muito acolhedor e familiar não só por ser um negócio de família, mas porque os clientes que ocupavam as restantes mesas, claramente eram já amigos da casa.
FLUVIÁRIO DE MORA
À saída de Mora fui visitar o famoso Fluviário de Mora. Trata-se de um aquário público que dá a conhecer espécies animais e vegetais de água doce, de todo o mundo.
O espaço é aparentemente pequeno, mas consegue reunir 600 exemplares de 69 espécies que habitam os rios de Portugal e não só.
Falo de inúmeros peixes, de todos os tamanhos e feitios, lontras, cobras e outros répteis, tartarugas e muito mais! Uma visita divertida, tanto para crianças como adultos.
Nem só de herdades, vinhas e adegas se vive o enoturismo no Alentejo! A isto eu chamo um bom, e bem preenchido, fim-de-semana alentejano!