Enoturismo no inverno, também é possível! Mesmo com alguma chuva e frio, há muitas adegas pelo país a visitar nesta estação
É verdade que não há nada como uma vinha verdinha, debaixo de um sol radioso, carregada de lindas uvas.
Provar um bom vinho sentado na esplanada de uma quinta, numa quente tarde de Verão. Assistir à vindima e sujar os pés a pisar uva num lagar.
Sim, enoturismo no Verão é realmente uma delícia e sem dúvida uma experiência inesquecível!
Mas, e no Inverno…. não se faz enoturismo? Claro que sim!
Eu não vou ficar parada em casa e sugiro que desse lado também não fique. Deixo aqui algumas ideias para explorar de norte ao sul do país!
SOALHEIRO, Vinho Verde
Imagine um copo de vinho à lareira, uma experiência gastronómica com produtos locais e uma prova de infusões… tudo isto parece perfeito para dias frios de Inverno e a Soalheiro tem!
Neste enoturismo é possível pernoitar na Casa das Infusões – um espaço rústico, onde cada detalhe foi inspirado pelas infusões biológicas The Pur Terroir, produzidas na quinta.
O programa de enoturismo da Soalheiro inclui visita às vinhas e adega com prova de diferentes vinhos e assim como prova das próprias infusões, harmonizadas com queijo Prados de Melgaço, compota da Quinta de Folga e mel do Zé.
E porque Melgaço é conhecido pela sua gastronomia única, repleta de produtos tradicionais, o Soalheiro criou também cinco opções de experiências gastronómicas, desde a refeição ligeira ao menu completo na Quinta da Folga, tem muito por onde se deliciar.
O enoturismo funciona todos os dias da semana, com quatro horários de visita por dia.
Produtor na região do Vinho Verde, que criou a primeira marca de Alvarinho de Monção e Melgaço.
CAVES DO PORTO, Vila Nova de Gaia
Quer se goste ou não de vinho, as Caves do Vinho do Porto são, a meu ver, um lugar de visita obrigatória em Portugal. Quase sempre que vou ao Porto, visito um novo espaço, que não conhecia antes ou que abriu recentemente.
Porque, do mesmo modo que as caves nos transportam ao séc. XVII através das salas de barricas escuras e bolorentas, também revelam modernidade.
As remodelações, que constantemente se vão fazendo nestes espaços, garantem ao visitante uma experiência de enoturismo dinâmica, viva e actual.
Há visitas às caves, há provas de vinhos clássicas ou acompanhadas de chocolates e outras delícias, provas ao som de fado, cocktails com Porto e muitas outras actividades, todas em torno do vinho do Porto.
Diria que não podem deixar de visitar a Ramos Pinto, o Graham’s Lodge ou fazer uma prova de vinhos na Vasques de Carvalho Brand House. Vinho pede comida e também os melhores produtores do país começam a aliar os seus vinhos à boa gastronomia! É o caso, por exemplo, da Enoteca 17.56
WINE & SOUL, Douro
Em 2001 começou a aventura de Sandra Tavares da Silva e Jorge Serôdio Borges, autores dos reconhecidos vinhos Pintas, Guru ou Manoella.
Sem vinhas nem vinho, a Wine & Soul nasceu de um sonho comum e um projecto pessoal ao qual se dedicaram de corpo e alma.
Desde então, a Wine & Soul cresceu e recentemente inaugurou o seu espaço de enoturismo, em Vale de Mendiz. O edifício onde já funcionava a adega foi totalmente recuperado e pode agora receber visitantes.
O enoturismo dispõe de loja, sala de provas e um terraço com vista para o Vale do Pinhão. No final da visita aos antigos lagares de granito, à sala de barricas e às vinhas, podem escolher provar apenas um vinho a copo ou ter uma prova comentadas, com todos os vinhos da gama Wine & Soul disponíveis.
Recomendo esta segunda opção, e para quem é “azeiteiro” como eu, não se esqueça de incluir o delicioso azeite Pintas na prova!
QUINTA DO ENCONTRO, Bairrada
A Bairrada é conhecida pelo leitão, pela casta Baga e pelos espumantes, portanto, uma região a explorar!
Para contrastar das antigas adegas de espumantes, com centenas de anos, aparece a Quinta do Encontro, uma adega design do séc. XXI.
Toda a conceptualização desta adega foi inspirada no vinho – o próprio edifício tem o formato de uma barrica gigante, os corredores internos são em espiral a lembrar um saca-rolhas e mesmo a lareira no hall de entrada tem o formato de uma garrafa de vinho.
Além da visita à adega e prova de vinhos, recomendo também ficarem para almoçar. Num dos pisos superiores da adega, há um restaurante de cozinha moderna, onde os pratos harmonizam na perfeição com os vinhos e espumantes “Encontro”.
Daqui, aproveitem a fantástica vista para a vinha com um copo de espumante Encontro Special Cuvée ou até Encontro Baga na mão!
QUINTA DE LEMOS, Dão
Depois de uma longa experiência na área têxtil, Celso Lemos, original de Viseu, volta “a casa” para dar início a outro sonho: criar uma adega que produza vinho do Dão de excelência!
Celso focou-se na qualidade da matéria prima, plantando castas originárias da região. Touriga Nacional, Jaen, Tinta Roriz e Alfrocheiro para os vinhos tintos e Encruzado para os brancos.
Já os nomes dos vinhos, são todos escolhidos em homenagem às mulheres da família! Georgina, Geraldine, Paulette ou Dona Santana são alguns dos vinhos que podem provar no final de uma visita à adega ou mesmo durante uma refeição no restaurante da adega.
Agora que o restaurante Mesa de Lemos ganhou a sua primeira estrela Michelin, há ainda mais uma razão para visitar o Dão. O recém premiado Chef Diogo Rocha colocou Silgueiros no mapa, com a sua cozinha sofisticada inspirada nos produtos da terra que o viu nascer e crescer.
Que o frio da Serra da Estrela não vos intimide, porque a Quinta de Lemos é uma excelente adega para fazer enoturismo no Inverno!
VINHOS DE COLARES, Lisboa
Confesso que a região de vinhos de Colares é uma das que mais me fascina no país. Por um lado, porque foi das poucas zonas da Europa cujas vinhas resistiram à devastadora praga de filoxera, por outro, porque estas são plantadas em grande profundidade em solo de areia atribuindo aos vinhos características únicas.
As castas tintas Ramisco e branca Malvasia de Colares são as principais castas usadas para produzir estes vinhos únicos. Acidez, frescura e uma surpreendente salinidade é o que lhes dá grande carácter. Vinhos frutados e salgados ao mesmo tempo? É isso mesmo que os tornam especiais.
São sem dúvida vinhos controversos: ou se odeia ou adora! Mas ninguém fica indiferente à história e às centenas de anos de conhecimento que se podem saborear numa garrafa de vinho de Colares.
Para descobrir mais sobre as vinhas e os vinhos de desta região, recomendo visitar duas adegas: a Adega Regional de Colares e adega Viúva Gomes (podem ler o artigo completo aqui)
QUINTA DE CHOCAPALHA, Lisboa
A menos de uma hora da capital, está a Quinta de Chocapalha. Este é um projecto de vinhos de família, já na terceira geração, em que toda a gente participa.
Visitei a Quinta de Chocapalha no fim de Novembro, num dia de muita chuva e frio. Comecei por conhecer a adega e a sala de barricas (tão bom sentir aquele cheirinho a madeira 😊)
Lá fora, o vento era muito mas as vinhas de Arinto mantinham-se fortes, não fosse esta a casta rainha do Oeste e muito acarinhada aqui na Quinta.
Com os sapatos enlameados, dirigi-me para a casa principal da quinta de família e entrei na sala de provas.
Ali dentro esperava-me uma lareira acessa, uns sofás quentinhos e muito vinho para eu provar. Dos três vinhos que provei, destaco o Chocapalha Reserva branco. É feito maioritariamente com Chardonnay e um pouco de Arinto, ou não estivesse na região de Lisboa. Um autêntico branco de Inverno que bebi com todo o prazer enquanto ouvia a chuva lá fora e o crepitar da lareira lá dentro
JOSÉ MARIA DA FONSECA, Península de Setúbal
Construída no século XIX, a Casa Museu José Maria da Fonseca produz vinhos há cerca de 200 anos. Enquanto atravessamos as vinhas e os jardins da casa, ouvimos contar a história da família Fonseca e todos obstáculos e desafios de quem é pioneiro num negócio.
Até que chegamos à antiga Adega dos Teares Velhos, onde centenas de barricas de Moscatel de Setúbal repousam ao som de cantos gregorianos. Será por isso que são tão bons?
Na minha visita não provei esta relíquia centenária, mas não fiquei nada mal impressionada com dois vinhos em particular: Colecção Privada DSF Verdelho e o Moscatel de Setúbal Colecção Privada DSF com Armagnac
Recentemente, mesmo na porta ao lado, abriu o Wine Corner, no seguimento do wine bar já famoso em Lisboa. Assim, depois de uma visita à adega, podem parar no restaurante a comer bons petiscos portugueses além dos irresistíveis queijos e tortas de Azeitão.
ERVIDEIRA WINE LOUNGE, Alentejo
Se “lounge” significa área de descanso, então imaginem um “wine lounge”!
A Ervideira criou este espaço, calmo, iluminado, com uma vista para o imenso Alentejo e rodeado de vinhos.
Depois de lançar o primeiro vinho em 1998, este produtor abriu as portas do seu Wine Lounge em 2018 com diversas provas, harmonizações e desafios para desfrutar e conhecer melhor os vinhos do Alentejo. Podem inclusivamente ser “enólogos por um dia” e criar um vinho ao vosso gosto!
Neste Wine Lounge o visitante é livre de escolher os vinhos que vai provar. Dentro das 20 referências, entre espumantes, brancos, tintos e fortificados acreditem que a escolha não é nada fácil.
A minha selecção foi o Invisível – branco feito a partir da casta tinta Aragonez e que celebra agora 10 anos desde a primeira colheita – e o tinto Conde d’Ervideira Private Selection, um vinho aromático, encorpado e gastronómico, representando muito bem o Alentejo!
Sentados na sala rodeada de vidros por cima da vinha, nada melhor que provar os vinhos acompanhadas por pão, queijo, compotas e enchidos regionais.
QUINTA DOS SANTOS, Algarve
Eu sei que o Algarve tem das melhores praias do país e que é no Verão que esta região se torna muito apetecível. Mas além das praias, também os vinhos estão a dar que falar e o Inverno parece-me uma excelente altura para os ir conhecer.
Foi mesmo num dia solarengo de Novembro que me fiz à estrada em direcção ao Algarve para visitar um recente produtor de vinhos. Com uma vinha, uma cervejeira artesanal e um restaurante em funcionamento num espaço de dois anos, encontrei a Quinta Dos Santos!
Ela norte-americana, ele sul-africano com raízes portuguesas, largaram os seus day jobs e mudaram-se para Estômbar no Algarve onde nasceu, em 2016, o projecto Dos Santos.
No restaurante “A Esquina” encontrei uma interessante variedade de pratos modernos com os sabores tradicionais portugueses, onde também se fazem provas das diferentes cervejas “Dos Santos” e do vinho da casa, o “Escolhido”. Aqui a grande aposta está na casta Negra Mole, cada vez mais acarinhada no Algarve, e desta provei o tinto e o branco blanc de noir (vinho branco feito com uma casta tinta)
A missão da Quinta Dos Santos é trazer algo de inovador ao Algarve, uma oferta turística diferente para provar que o Algarve se aproveita todo o ano!