Costa Alentejana em 4 dias: o roteiro perfeito para amantes de praia e enoturismo!

Se é verdade que a minha vida toda, actualmente, gira em torno do vinho, também é verdade que nasci e cresci junto ao mar e por isso a ideia de juntar vinhos, vinhas, praia e mar é simplesmente perfeita!

A Costa Alentejana tem isso tudo! Tem vinhas em chão de areia, brisa do mar, tem bons vinhos, comida excelente e sítios lindo para ficar a dormir.

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Em termos geográficos e turísticos, esta costa pertence ao Alentejo, como o nome indica, mas partilha duas regiões vitivinícolas: ALENTEJO e PENÍNSULA DE SETÚBAL.

Neste artigo, partilho consigo a winetrip que fiz e o meu roteiro de 4 dias pelo Sudoeste Alentejano 😊

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– DIA 1 –

A SERENADA, Península de Setúbal

Enoturismo e Alojamento – Grândola

O nome Serenada não é por acaso. Já vem de 1646 e significa, exactamente, um lugar sereno. Cheguei à Serenada na melhor hora, ao pôr do sol, e Jacinta, a proprietária, recebeu-me na sua varanda com vista para a floresta e vinhas.

Jacinta é formada em Farmácia, mas por influência do pai que já ali fazia vinho, direcionou a sua experiência de ciência e laboratório para a enologia (e cá entre nós, parece-me que fez uma boa escolha!)

Desde cedo, Jacinta achou que o solo da Serenada tinha capacidade para abrigar diferentes castas. Muitas mesmo, de todo o país e algumas internacionais.

Por isso, dentro dos 7 hectares de vinha da Serenada encontrei mais de 20 castas entre elas Jaen, Baga, Castelão, Bastardo, Ramisco, Fernão Pires, Trincadeira das Pratas, Moscatel e muitas outras.

A parcela mais antiga foi plantada em 1961 pelo pai, no ano de nascimento de Jacinta. Daí produz-se dos vinhos mais especiais da casa: Cepas Cinquentenárias. Também a dupla de branco e tinto Grauvaque Y14 me surpreenderam!

Grauvaque é um tipo de pedra presente no solo da herdade. O branco foi o que mais gostei, vinho de curtimenta de Viognier e Moscatel, com aromas de mel e flores, na boca é seco e de final prolongado.

Além de visitas à adega e provas de vinho, também aqui se organizam jantares vínicos e picnics na vinha. Assim como se pode ficar a dormir no sossego de um dos 8 quartos e suites da Serenada, cada um com o nome de uma casta diferente plantada na herdade.

Pode até alternar entre uma sesta depois do almoço no restaurante, com um mergulho na piscina junto à vinha ou apenas sentar-se na varanda a ler. Vida difícil, não é? 😊

www.serenada.pt

– DIA 2 –

QUINTA BREJINHO DA COSTA, Península de Setúbal

Enoturismo – Grândola

Apesar do proprietário ser o Comendador Manuel Barbeiro Costa, o nome da quinta vem mesmo da proximidade à Costa Atlântica, que está na verdade a 4 km das vinhas.

Barbeiro Costa é natural de Leiria, mas há muitos anos que tem neste lugar um grande pinhal, de onde extrai resina. Em 2006 abdicou de 40 hectares de pinhal para dar lugar à vinha.

Ali há uma mistura de muitas castas como Trincadeira, Alicante-Bouschet, Baga, Touriga Nacional, mas também Encruzado, Sauvignon Blanc, Alvarinho, entre outras.

Um dos vinhos que mais chama a atenção quando entramos na sala de provas, é mesmo o Vinho do Atlântico. Trata-se de um vinho que envelhece um ano debaixo de água, mais concretamente a dez metros de profundidade no mar, junto ao porto de Sines.

Este processo de envelhecimento, em que as garrafas estão não só a uma temperatura estável e protegidas da exposição solar, mas, mais importante, sob pressão, permite que o vinho envelheça mais rápido do que a mesma garrafa a envelhecer em adega.

Aqui, os taninos ficam mais suaves e o vinho mais elegante. Bom, pelo menos foi o que me explicaram, porque um vinho tão especial como este não está à prova durante a experiência de enoturismo, a não ser que comprem a garrafa. Sendo assim provei outras maravilhas.

Devo dizer que o monocasta Baga me surpreendeu, nunca tinha provado um Baga fora da Bairrada e este vinho estava incrível! O Reserva branco, feito com Arinto, Alvarinho e Encruzado estava tão bom que trouxe para casa.

Mas nem só de vinho vive o Brejinho da Costa. Esta casa, e o seu enólogo Luis Simões, gosta de fazer experiências. Portanto vodka, gin, aguardentes e, imaginem, Pisco com base de Alvarinho, são outras bebidas que podem provar numa visita a esta adega atlântica!

www.brejinhodacosta.pt

OCTANT SANTIAGO

Alojamento – Santiago do Cacém

O Octant Santiago foi uma grande surpresa para mim! O edifício não é novo, já que antes albergava outro hotel, mas recentemente foi todo remodelado. Deu, assim lugar a um hotel leve, descontraído e centrado no tema “Gastronomia” ou não seria o director do hotel, chef de cozinha.

Além do conforto dos quartos, bem espaçosos e iluminados, o hotel oferece diariamente workshops de cozinha gratuitos aos seus hóspedes. O restaurante, tem a cozinha aberta para a sala e assim podermos ver udo o que se passa nos “bastidores”.

Lá fora junto à piscina, tem uma zona de refeição também, com ervas aromáticas e lareira para se prepararem churrascos, com vista para o castelo de Santiago do Cacém.

https://www.santiago.octanthotels.com/

– DIA 3 –

HERDADE DO CEBOLAL, Península de Setúbal

Enoturismo – Santiago do Cacém

Já ouviram falar de agricultura sintrópica? Eu não, pelo menos até chegar à Herdade do Cebolal, onde Luis Mota Capitão me recebeu.

Aqui pratica-se um tipo de viticultura integrada na sua paisagem, neste caso floresta. Luis e a sua família começaram a perceber que o mundo e a agricultura estão a mudar, pelo que é importante preparar as plantas para se adaptarem a todas as alterações de clima que o futuro reserva.

Assim sendo, os 20 hectares de vinha estão protegidos por uma mancha de floresta com árvores autóctones. Em breve, também as linhas da vinha irão juntar videiras, sobreiros, carvalho e outras espécies que possam criar um ecossistema sustentável e uma viticultura mais equilibrada.

Bom, mas e os vinhos? Provei 4 e dificilmente consigo eleger um preferido, porque todos são excelentes e únicos à sua maneira.

No entanto, dado o calor que estava naquele dia, a proximidade ao mar e a vista tão refrescante, acho que foi mesmo o clarete de Castelão – acompanhado por marmelada caseira – que mais me agradou!

Se bem que provar o branco Vinha do Rossio, acompanhado por mel da herdade (cuja cera é usada para selar as garrafas, evitando o plástico ou alumínio da cápsula) foi das melhores harmonizações vinho/comida que já experimentei até hoje!

www.herdadedocebolal.pt

LAMELAS

Restaurante – Porto Côvo

Se vai fazer este roteiro pela costa alentejana, vai querer comer bem e, de preferência, junto ao mar. O Lamelas é o sítio que recomendo! Eu e o Guia Michelin que classificou, em 2024, como um dos restaurantes ‘Recomendados’ de Portugal.

Não só tem uma longa lista de entradas – eu provei 6 entradas e ainda ficaram outras tantas por provar – como o resto do menu é bem variado. A sugestão da chef Ana Moura foi o arroz de marisco e peixe do dia. E não podia ter sido melhor sugestão!

Eu sou suspeita porque nasci em Cascais, onde se leva a sério o marisco e qualquer receita com marisco, mas este arroz – que naquele dia continha robalo – estava mesmo “daqui”! 😄 Bem apurado, bem temperado, ensopado e recheado de “bichos”.

A carta de vinhos também é muito completa e inclui essencialmente vinhos da costa alentejana, o que acompanha na perfeição qualquer cozinhado do Lamelas.

www.lamelasrestaurante.com

MONTE DO ZAMBUJEIRO

Alojamento – Vila Nova de Milfontes

Passei os verões da minha adolescência em Vila Nova de Milfontes, por isso foi com alguma emoção que, 20 anos depois, voltei a esta terra.

E, de facto, não podia ter escolhido melhor lugar!

O Monte do Zambujeiro é uma propriedade com 7 apartamentos, delimitada pelo rio Mira. Nada se ouve à volta do hotel e o silêncio é profundo!

Fiquei na “Casa da Avó” mesmo frente à piscina e logo atrás, o rio. Com cozinha e sala, além do quarto e casa-de-banho, bem podia ter ficado aqui instalada uma semana, mas infelizmente foi mesmo só uma noite.

No entanto, ainda deu para passear pelo jardim, andar de baloiço com o Mira aos meus pés e tomar um pequeno-almoço especialmente preparado para mim no alpendre da casa principal, ouvindo apenas os pássaros e o vento a passar pelas árvores.

www.montedozambujeiro.com

– DIA 4 –

VICENTINO WINES, Alentejo

Enoturismo – São Teotónio

Eu nem imagino a coragem que é preciso para um norueguês vir para Portugal nos anos 80 e começar um negócio do zero!

Mas foi o que aconteceu com Ole Martin Siem, que encontrou na costa alentejana o lugar perfeito para instalar uma produção de frutas e legumes sendo, actualmente, a couve chinesa o seu ex-libris.

Mas 20 anos depois de tudo começar, Ole acrescentou uma fruta ao seu porfólio: Uva para vinho! E, sem dúvida, que este clima marítimo e chão de área se revelaram uma grande surpresa. Os sessenta hectares de vinha são muito felizes neste terroir tão único, a apenas 2,5 km do Atlântico.

As castas-bandeira da Vicentino Wines são a Pinot Noit e o Sauvignon Blanc, no entanto também há lugar para o Arinto, Alvarinho, Touriga Nacional, Syrah e muitas outras.

Curiosamente é com o Pinot Noir que o enólogo Bernardo Cabral tem sido mais criativo, e daqui faz um Rosé, um clarete da gama Naked e um puro tinto com estágio em madeira.

Além de vários blends, também criou um monocasta de Arinto e um de Alvarinho.

Algo em comum todos estes vinhos têm: frescura, excelente acidez e um toque salino inconfundível. Características perfeitas para degustar com umas ameijoas à bulhão pato, peixe grelhado ou arroz de marisco, numa boa esplanada junto ao mar.

www.vicentinowines.com

No meio de tantas visitas, ainda consegui fazer um pouco de praia em Porto Covo, que me soube lindamente!

Acabei as férias a caminhar pelo Cais Palafítico da Carrasqueira ao fim do dia, em que apenas as silhuetas dos barcos e o ondular da água compunham a paisagem.

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