O que pensam fazer aos 95 anos? Plantar uma vinha e começar um projecto de vinhos? Talvez não mas foi exactamente isso que o Barão Bodo von Bruemmer fez no Casal Santa Maria
Mas voltando um pouco atrás. Caminhando pelos jardins do Casal Santa Maria, percebemos porque o Barão von Bruemmer escolheu este lugar à beira mar plantado para passar os últimos anos da sua vida.
E não me refiro apenas a Portugal que por si já é rodeado de mar, mas a própria quinta está a menos de 1 km do mar, na zona de Colares em Sintra.
Conto-vos a história. É longa mas vale a pena, prometo!
Nasceu na Curlândia no início do sec. XX, mas foi mais tarde nos anos 60 – quando Bodo vivia na Suiça – que lhe foi diagnosticado um cancro no pâncreas que lhe daria apenas mais seis meses de vida.
Decidiu que não era ali na Suiça que tal iria acontecer e procurou no mapa da Europa um melhor lugar para terminar os seus dias.
O local escolhido foi uma casa em ruínas, sobrevivente do grande terramoto de 1755, em estado de abandono, escondida no meio dos jardins também eles bastante descuidados.
Juntamente com a sua mulher Rosário, recuperou a casa e ali ficou a aguardar a anunciada morte.
Mas ironia da vida, foi a sua mulher que uns anos mais tarde acabou por morreu de cancro.
Bodo seguiu a sua vida até que real um problema de saúde (não o cancro que lhe havia sido erradamente diagnosticado anos antes) o levou de volta à Suiça.
Após vários tratamentos e finalmente curado, Bodo acorda ainda no hospital e – já com 95 anos – diz aos médicos que quer voltar à sua quinta em Portugal e plantar uma vinha!
Sim, plantar uma vinha aos 95 anos, porque “its never too late” pelas palavras do próprio Barão von Bruemmer.
E assim nasceu, no Casal Santa Maria, a vinha mais ocidental da Europa. Naqueles solos plantaram-se inicialmente seis hectares e meio de vinha entre castas portuguesas e estrangeiras.
Inseridas na sub-região de Colares, região de Lisboa, as vinhas que rodeiam a casa têm uma forte influência Atlântica.
Tinha 98 anos em 2009 quando saiu a primeira colheita.
Após o primeiro ano com vinte castas, houve uma selecção das seis com mais potencial – Pinot Noir, Touriga Nacional, Petit Manseng, Chardonnay, Malvasia e Sauvignon Blanc – melhorando consideravelmente a qualidade dos vinhos.
Foi ao longo de uma caminhada pelos jardins e pelas vinhas com vista mar, que Pedro me contou toda esta história.
E acreditem, é preciso estar ali, naquele sossego, para perceber o fascínio do Barão por este lugar!
No final da caminhada, de volta à casa fiz a habitual prova de vinhos (que podem ser acompanhado de pão regional e azeite).
São várias as referências que hoje se produzem no Casal Santa Maria, todas bastante distintas entre si e entre os outros vinhos da mesma região.
Eu escolhi provar:
Mar de Rosas – o rosé dedicado a Rosário, falecida mulher do Barão. Feito a partir de Touriga Nacional, Pinot Noir e Syrah. Tem uma cor linda de salmão e uma boa acidez para equilibrar a doçura dos frutos vermelhos.
DOC Colares Branco Malvasia – um bom exemplo de vinho com salinidade. Este vinho é feito a partir de vinhas de chão de areia. Além das plantadas junto à casa, o Casal Santa Maria tem alguns hectares de vinhas tradicionais muito perto do mar o que lhe permite produzir vinho DOC Colares (mais sobre estes vinhos aqui)
Pinot noir – Deve ter sido o primeiro vinho do Casal Santa Maria que alguma vez provei e foi amor à primeira vista. Este Pinot Noir está cheio de cor e sabor a compota de amora e especiarias. É um vinho intenso mas muito elegante que eu bebi com uma fatia de bolo de chocolate e recomendo-vos a fazer o mesmo!
Bodo von Bruemmer faleceu com 105 anos, pelo viveu o suficiente para ainda desfrutar de cinco colheitas do Casal Santa Maria.
Pelos excelentes vinhos, pela vista única e privilegiada e pela impressionante lição de vida, uma visita a esta quinta enche-nos a alma!
Fantástico artigo, Madalena!
Muito elucidativo com muito boa fotografia.
Excelente trabalho, como sempre 😉
Beijinhos
Que bom que gostou Carlos! Obrigada 🙂
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