Começou por um monte, depois seguiu-se mais um e outro pedaço de terra. De repente, o empresário Pedro Garcia de Matos viu-se com uma propriedade de sessenta hectares à beira do rio Arade, em Estômbar, e completamente encantado por esta localização.

Mas vários séculos antes, já os Fenícios se tinham apaixonado por esta zona a que chamaram de Arvad, ou “refúgio” de inimigos e perseguições de outros povos.

Diz-se até que, pelo rio Arade acima, traziam já ânforas vinárias das quais ainda ainda se encontram alguns vestígios das ânforas, provando que a relação do Algarve com o vinho não é, seguramente, coisa de agora.

OS VINHOS DA ARVAD

Voltando aos tempos modernos… em 2016 plantaram-se as primeiras vinhas com seis castas: Cabernet Sauvignon, Touriga Nacional, Alicante-Bouschet, Arinto, Alvarinho e Sauvignon Blanc.

Então, mas e a casta bandeira do Algarve? Bom, de facto a Negra Mole não fez parte da plantação inicial mas rapidamente surgiu um vinho monocasta com uvas provenientes de uma das mais antigas vinhas de Negra Mole, pertencentes a um pequeno produtor local.

A casta tinta Negra Mole está finalmente a ter o reconhecido há tanto tempo esperado. Esta casta autóctone algarvia tem características únicas e a Arvad soube trabalhá-las na perfeição.

O Arvad Negra Mole é um vinho bem distinto, com pouca cor mas com acidez vincada e aromas vivos de frutos vermelhos e ervas aromáticas. O facto de estagiar em ânfora por 7 meses, ajuda a torna-lo mais fresco e elegante.

O ALGARVE É MAIS QUE SOL E PRAIA

A Arvad Wine é, assim, um dos mais recentes projectos de vinho no Algarve, que aposta na qualidade do produto, acreditando no potencial desta região.

Aqui, o enólogo Bernardo Cabral usa cada uma das castas na sua forma mais verdadeira, seja em blend ou monocasta, como é o caso do Negra Mole e do Touriga Nacional. Como gama de entrada existe o trio branco, rosé e tinto, todos eles bem frescos e com forte carácter.

A localização é privilegiada para se fazer vinho, sendo que as vinhas acompanham as curvas do rio Arade, conseguindo diferentes exposições solares. A Serra de Monchique equilibra as temperaturas ao mesmo tempo que permite a passagem dos ventos do Atlântico. Tudo condições que favorecem a produção de uva de grande qualidade.

UM OUTRO ALGARVE

A chegada à Arvad é feita geralmente por terra, de carro, mas podem optar por fazer o percurso dos Fenícios, saindo de Portimão de barco e subindo o rio Arade até ao cais da Arvad. Aí estará um buggy para fazer o percurso vinhas acima, até à adega.

Todas as visitas incluem um passeio pelas vinhas, uma passagem pela adega de barricas – onde também se encontram algumas ânforas a lembrar outros tempos – e uma prova de vinho no alpendre com vista para o rio e serra de Monchique.

As provas incluem três, quatro ou as cinco referências disponíveis, às quais se pode ainda acrescentar uma farta tábua de queijos, enchidos, azeitonas, azeite, pão e conservas de peixe ali de Lagoa.

ENOTURISMO NA ARVAD

O projecto Arvad é recente, mas promete revolucionar a oferta de enoturismo e hotelaria do Algarve. Está já em marcha a construção de um hotel vínico com 40 quartos, restaurante e Spa, bem no topo do monte, junto à parcela do Arinto, com vista 360º. A inauguração está prevista para 2025.

Mas enquanto não inaugura o hotel, o melhor que se pode fazer é mesmo uma prova de vinhos e petiscos no alpendre.

Este momento, por si só, já enche a alma de qualquer visitante e desperta os cinco sentidos.

Sentir o vento da serra, ouvir os pássaros na reserva natural, cheirar os arbustos silvestres que rodeiam as vinhas, observar os tons de verde da paisagem contrastando com o azul do rio e claro, degustar todas as iguarias dispostas em cima da mesa. Não haverá melhor descrição de enoturismo do que esta!